Algumas Coisas Que Assustam os Homens - Parte 5
Entrega demais.
Depois que eu consegui ficar com ela, a palavra utopia foi banida do meu vocabulário. Era um desses tipos de meninas que são abordadas em shoppings por olheiros de agências de modelo, pois tinha um rosto meio diferente cravado por dois olhos de um azul exótico e uns lábios dignos de Betty Grable e o cabelo louro parecia uma peruca de fios de ouro de tão lindo e surreal. A gente se conheceu no Metrô e trocamos e-mails durante um bom tempo. Ela era durona, decidida, fiel (sim, ela namorava), firme, convicta, cheia de ambições, declaradamente romântica e ninfomaníaca. Durante esse processo da troca de e-mails a palavra utopia era sinônimo do nome dela. Além de exuberantemente linda e ter um papo interessante demais, ela era extremamente fiel ao namorado. Resumindo: seria impossível conseguir algo além de amizade. Então eis que nos encontramos por acaso no Metrô e acabou acontecendo da gente ir passar a noite no meu apartamento. Nada daquela mulher durona, convicta, decidida, fiel, ambiciosa e ninfomaníaca. Infiel: a gente não ia pro meu apartamento pra ficar jogando videogame, claro. Ela já não era tão convicta assim do que queria, pois durante o tempo que a gente ficou eu fui tratado como um rei tomando o trono do até então namorado. Uma espécie de "lencinho branco caiu no chão" onde eu e o cara levantávamos e sentávamos no trono para governar aquele mundo louro de olhos azuis. Ela perdeu a ambição, pois ficou declarando que era capaz de viver comigo numa casinha pequena, com poucos cômodos – ou até mesmo um barraco - para que nos esbarrássemos o tempo inteiro.
E pra finalizar, me deitei com uma ninfomaníaca que falava "fazer amor" e só "fazia amor" no clássico papai-e-mamãe. Claro que depois dessa sucessão de malsinação eu não troquei mais e-mail nenhum.
O último que eu li foi um que ela mandou no dia seguinte falando que tinha terminado o namoro e que agora era "só minha". Como assim? Ninguém é de ninguém! Eu não quero nunca assumir a responsabilidade de ter um alguém que me pertença.
Quero alguém que fique do meu lado, sim, como complemento, não como um fardo a carregar, como uma responsabilidade a assumir. Sim, quero me casar e etc., ter alguém que seja fiel a mim e vice-versa. Eu não sou nem de mim mesmo, como vou assumir um outro corpo, uma outra mente? Não, abrir mão de si próprio para se entregar para outra pessoa não é algo legal. Ainda mais quando tal declaração é feita após uma noite que nem foi tão boa assim para o outro. Mas uma das virtudes que me chamou atenção nela se manteve: era extremamente romântica. No pior sentido da palavra. Por falar em palavra, "utopia" voltou ao meu vocabulário...