Ela se chama Mériam

A conversa transcorria na maior naturalidade. JP, o protagonista. Peterson, o idiota, o envergonhado, o banana, o babaca. Tudo no seu devido lugar, tudo como deveria ser. Começara a suar, sua camisa de botões brancos, cor de vinho, já apresentava sinais a baixo das axilas. Um nojo. Logo sua camisa mais nova, a mais bonita. Uma camisa de tonalidade forte, chamativa. Uma camisa que lhe custara os olhos da cara, 62 reais, pagos em duas vezes.

Precisava sair dali, urgente! Gostaria que um míssil, desses que andam pela galáxia, todos os dias, caísse ali, naquele exato momento, ou um furacão, ou uma enchente, destas que devastam Santa Catarina. Gostaria até que assaltantes entrassem no bar, mandassem todos deitar no chão, saqueassem. Não Peterson. Peterson enfrentaria os assaltantes com golpes certeiros em seus abdomens e cabeças, protegeria as duas com seu corpo esguio. Seria um herói. O bravo Peterson, do Diário.

- Uau Peterson. Obrigado! Que sensacional tu és. – Exclamaria a loira, a mais bonita, admirada.

Mas assaltantes não roubam bêbados, não em bares ou boates e festas. Os assaltantes têm compaixão por pessoas que sabem aproveitar a vida, por homens como Peterson, trabalhadores, adultos, que, no final do expediente saem para tomar chopes cremosos. Sim, Peterson era um adulto. Cheio de responsabilidades e tal.

Resolveu ir ao banheiro. Numa rotina habitual repetida várias vezes ao dia, automatizada, abriu o zíper, segurou o pênis, urinou, chacoalhou, lavou as mãos, olhou-se no espelho e percebeu o quanto estava desajeitado. Um chumaço de cabelo, bem em cima, no coco da cabeça, teimava em não baixar, passou água, em vão.

Ao sair do banheiro, ainda em um corredor escuro de acesso, deparou-se com o inesperado, com o impossível, com a irrealidade, com a mais bela cena já vista, legítima cena de pintura de um DaVinci.

Parou, ofegante. Pensou não ser verdade, não podia, não com ele. Suspirou. Seu coração acelerou de uma maneira absurda. E se infartasse? Ele batia a essa altura a 200 bpm. Meu Deus!

Ali, em sua frente, parada, linda, com um vestido preto de 4 dedos acima dos joelhos, pele bronzeada, loira, olhos azuis, pernas torneadas. Tudo isso, ali, a mercê. Ah! E aquelas panturrilhas. Deus, aquelas panturrilhas eram duas obras divinas, dois músculos rasgavam cada uma delas, um oásis. Peterson era um apreciador de panturrilhas femininas. Panturrilhas e barrigas. A barriga dessa loira deve ser sensacional, pensou. Estava ali, cheirosa. Suas costas estavam escoradas na parede, uma de suas pernas dobradas, joelho flexionado, deixando a mostra sua coxa direita. Um dedo na boca lhe dava ares de provocativa.

- Não pude deixar de perceber você. Estava nervoso! O que houve? Fiquei preocupada e vim ver como estava. – A loira preocupada com Peterson. Parecia realmente preocupada, parecia sua mãe. Não podia ser, não com ele. Precisava de uma mulher assim, que lhe cuidasse, que trouxesse café na cama, lhe beijasse quando acordassem, que dormisse nua ao seu lado, que sussurrasse palavras de carinho no seu ouvido, era disso que precisava.

- Nã-nã-nãoo. Vim porque senti vontade de urinar. – Urinar? Será que deveria falar esse tipo de coisa para uma mulher daquelas? Pensou se não tivesse soado como nojento, ou tarado, ou algo parecido.

- Que bom. Minha amiga está lá conversando com o JP. Não sei como conseguem ter tanto assunto, e isso que passam o dia conversando. Não quer sentar em outra mesa comigo? – Agora assinou seu termo de babaca. Ele é quem deveria ter convidado ela para sentar em outra mesa, pedir uma cerveja bem gelada, uma porção de camarão, chamar o garçom pelo nome, alisar a pele de seu rosto lisinho, convidá-la para sair.

- Si-si-simm. Vamos. – Gaguejou feito um legítimo gago em crise nervosa. Deus, estava se saindo pior que o esperado. O que uma loira daquelas ainda queria com ele? Será que queria ter uma noite inteira de sexo melequento? Ou só queria conversar? Mulheres gostam de conversar, gostam de filosofar e dar sentido à vida.

Continua..