Insônia      (EC)
 
O sol devagar se apaga no horizonte
Silêncio terrível, quase ensurdecedor
Tic tac incessante do irritante relógio
múltiplos uivos de cães abandonados
Sirenes ao longe, bandidagem a solta 
A boca da noite engole a lua cheia.
Escuridão de incontáveis  mistérios.
Reviro-me na incômoda cama,
só, lembranças roubam meu sono
Levanto-me aturdido, vagueio pela casa
entre os móveis, imagens sombreadas
Sinto a brisa, doces olores de incensos florais
fragrâncias de jasmins, rosas,violetas,
flor de laranjeira, do mato molhado.
Ah! e você se foi assim, sem mais nem menos.
Sento-me na poltrona da sacada as escuras
Vislumbro abaixo a rua quase deserta
Lâmpadas bruxuleantes, um gato pardo
a revirar o lixo sobre a imunda calçada,
o bêbado  em ininteligível palavreado
tenta acender a bega de um cigarro,
desiste, joga-a sobre o muro vizinho.
Alguns moradores de rua passam, taciturnos
em lentos passos, arrastando seus  andrajos
Nos prédios a frente luzes fenecidas
Bons e  maus adormeceram nos braços de Morfeu.
Os sinos da Matriz badalam por 4 vezes
É muito tarde, acendo mais um cigarro
infiel companhia de longas madrugadas.
Alguns motoboys iniciam a diária labuta
rolos de jornais, notícias do dia para amanhã.
A última estrela se esconde sob o manto
prateado das nuvens que passam ligeiras
No horizonte o faiscar de mais um longo dia
O orvalho da manhã chora sobre pétalas macias
Corpo entorpecido, ouço os sinos tocar: 6,00 horas
Movimento de carros, ônibus, trabalhadores,
sirenes de fábricas, vozerios,  rotina do dia...
Levanto-me da poltrona, é tempo de preparar o café,
e tentar esquecer  mais uma madrugada de insônia,
dolorosa via-crúcis de um amargurado  Zumbi.


 
Este texto faz parte do Exercício Criativo – Insônia
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