Desejos

Aos 32 anos de idade, comecei a ganhar a plenitude da calma, ou fui engolida pelo fantasma da preguiça. A vida anda iludida e rotineira, prévia de um ano mais contido e maduro. Ando esquecendo, propositalmente, de situações que nunca deveriam ter acontecido e arrependida muitas vezes de não ter pensado nas suas conseqüências na hora de seus atos.

Comecei a zerar a minha história, perdoando meus deslizes para escrevê-la novamente, um novo começo - o ano I - anda mexendo com minhas raízes e modificando meus valores. Talvez por isso, a necessidade de escrever a lápis e finalmente ter o poder de modificar os finais.

Ando apaixonada pela nova casa, ando encantada com a nova vista, ando amedrontada com os novos rumos e seus silêncios, a tal pausa de mil compassos, ainda me faz sentir falta da bateria. E das noites de troca.

Em meio tempo, me divido entre as noites de excessos e as de tédio, e em qualquer uma delas ando em plenos flashes, onde retornam lembranças guardadas das quais nunca penso, e que de repente me assaltam voltam à memória. Estas épocas de limpeza nos tornam – nostálgicos. E em plena mudança eu desejo de tudo um pouco: a felicidade de Katherine Mansfield, as bolsas da Joyce e a calma de Clarice. E a vida começa a entrar finalmente no eixo, por mais que eu ainda esteja na contramão.