Os (De)Amores da Noite
Elas se recostaram na mesa, as duas. Vieram de longe, com um andar doce, num ziguezaguear de quadris, deixando todos os desvairados do sexo masculino ainda mais sedentos por mulher. Peterson já tinha visto as duas logo quando estacionaram seu Stilo prata de vidros negros do outro lado da rua. A partir dali vieram em sua direção, tinha certeza. Vieram com passos largos, olhando nos olhos de Peterson, vidradas.
Ao se aproximarem JP se levantou, como um legítimo cavalheiro, um Don Juan. Beijou a mão das duas. Curvou-se. Colou seu rosto em suas peles perfumadas, falou-lhes alguma coisa engraçada no ouvido, fez as duas rirem. Mulheres gostam de frases engraçadas, causam impacto, e nisso JP era um legítimo professor. Peterson ficou boquiaberto com a atitude de seu amigo, admirou-o ainda mais. Se limitou a dar apenas um oi, de longe, sem levantar.
- Sentem-se conosco. – Convidou JP. – Estamos aqui, eu e meu amigo Peterson, conhecem o Peterson né? Trabalha no jornal Diário Serrano, é repórter lá.
- Prazer Peterson. – Falou a morena.
- Oi Peterson. – Ponderou a Loira.
- Oi. – Respondeu Peterson, rouco, nervoso, trêmulo, que sua voz mal saiu de sua boca, com um rubor inebriante no rosto.
Oi? Respondeu apenas um oi, morto, teso. Era um imbecil, um babaca, um legítimo idiota. Ficara vermelho, envergonhado. Odiava quando isso acontecia. Devia ter feito como JP, levantado, abraçado as duas, falado algo em seus ouvidos sedentos por uma frase de impacto. Mas não. Ficara ali, sentado, onipotente. Merecia a guilhotina. Ah, merecia.
Assuntos não lhe surgiam à mente. Apenas JP, só JP, individualmente JP falava e gesticulava e articulava. Peterson não passara de um mero telespectador. Ele e as duas inebriantes e belas mulheres que assistiam. As duas pareciam admiradas, haviam escorado seus queixos quadradinhos e com furinhos de pele lisinha na mão, olhavam nos olhos de JP. Maldito JP. Sempre roubava a cena de tudo, era sempre o protagonista número 1. Mas também, Peterson não passara de um sonso. Será que elas já pensavam que ele fosse mudo? Não, elas nem olhavam para Peterson. Mulheres assim, acima da média, as exuberantes, normalmente não olhavam para Peterson. Também, precisava de uma academia, mulheres gostam de homens que frequentam academias. Homens fortes, músculos imponentes. Elas se sentem protegidas, essas mulheres. Precisava fazer umas abdominais, umas 50 por dia. Também precisava pagar o aluguel, beber mais água, ler mais, escrever mais, dormir mais cedo, acordar mais cedo, abrir uma poupança. Nossa! Precisava fazer muita coisa. E logo.
Então os três conversavam, JP e as duas. Peterson era um mero espectador, um tímido espectador, um idiota. Era assim que se sentia, um idiota. Mas a cerveja estava gelada, estupidamente gelada, e isso lhe dava uma sensação de prazer.
continua..