Aplaudido de pé
APLAUDIDO DE PÉ
Você já viu aquele cara bom de garfo, o comilão de fato e de direito, que chega e vai logo chamando a atenção, a personificação da própria máquina de devorar, com apetite canino, que receberia com certeza a medalha de ouro em todos os concursos ou aquele trofeuzão dourado em forma de garfo, de faca ou de colher, sei lá, algo que poderia simbolizar a sua “insaciabilidade”. Prá resumir: o homem era um estrago e uma ameaça iminente aos lucros de donos de restaurante.
E o seu prato preferido? Todos, isto mesmo, todas as carnes, todas as massas, enfim, todos os itens inseridos ou não nos cardápios. Do “couvert” à sobremesa, Geraldão não dispensava “nadica” de nada.
Geraldão era o apelido que definia bem o tamanho da “criança”, um autêntico guarda-roupa dez portas, com maleiro e tudo o mais. Cabelo comprido, amarrado atrás, como um rabinho, barba feita, bigode chamativo e aquela barriga em forma de barril, que mostrava perfeitamente a sua competência para a comilança.
Pastel de carne ou queijo, com muita pimenta, empadinha, coxinha, pizzas, cachorro-quente, assados, cozidos, grelhados e pode acrescentar o que você quiser, pois era com ele mesmo.
E olha que o Cesinha da Pompéia, um amigo meu, não seria páreo prá ele, apesar de ser bastante competente nesta área gastronômica.
Geraldão era, vamos dizer, o mais esperado da noite, pela sua fama de apetite de leão, e também a sua simpatia, jeito de moço bom. Se fosse candidato poderia utilizar o slogan: “Vote no Geraldão, o candidato de bom coração”. Mas ele não se envolvia nestas coisas de política, pois não tinha nenhuma vocação para enrolar os outros com promessas vazias, o que fazem muitos caçadores de votos, com exceções, claro. Queria mesmo era trabalhar, cumprir as obrigações como cidadão e comer bem, e como!
E olha que faltou pouco para ele competir em Nova York, no famoso torneio de comer cachorros-quentes de Coney Island. Foi lá que o japonês Takeru “Tsunami” Kobayashi, hexacampeão do torneio, acabou se desentendendo com a organização da competição, após ver quebrada a sua hegemonia, sendo derrotado pelo americano Joey Chestnut, que devorou 68 hot dog, contra 64,5 deglutidos pelo nipônico.
Geraldão bem que poderia ter encarado esses gringos, mas esbarrou na burocracia e acabou se atrasando na inscrição. Um concorrente a menos para Chestnut, que acabou levando o caneco. Quem sabe no ano que vem, a história seja diferente.
Falando nisto, olha quem está chegando...
É o Geraldão que vem com tudo, apetite tradicional, com o seu jeitão característico, chamando a atenção de uma casa cheia, cumprimentando a todos pelo caminho até a mesa 58, especialmente reservada, bem no centro daquele ambiente bem arrumado e freqüentado.
- O de sempre – ia dizendo logo para um dos garçons e eles já sabiam de cor e salteado os procedimentos a serem colocados em prática a partir daquele momento, para a satisfação do cliente.
E o cliente satisfeito estava agora nas etapas finais de mais um momento “animal”. Quem o viu lá naquela noite foi o meu amigo Cesinha da Pompéia que, ainda comentou:
- O homem é realmente insuperável... poderia muito bem ser aplaudido de pé...