Uma Mulher de Coragem!
Local: Fórum da vara da família.
– Júlia, nós vamos adiar essa audiência, pois seu marido acabou de chegar e, por incrível que pareça, está completamente alcoolizado. Sinto muito – falou o advogado do processo.
- Onde ele está? Vou falar com ele. – respondeu Júlia.
Julia aproximou-se de Luís - seu ainda marido -, que estava totalmente bêbado e, ainda por cima, falando bobagens. Ela o olhou firmemente e lhe disse:
– Luís, nós temos uma audiência de divórcio e você me aparece bêbado?
Luís, sem saber nem o que estava dizendo, passou a tratá-la com grosseria. Assistindo a tudo, o advogado a chama e fala, mais uma vez, que vai adiar a audiência. Júlia não se conforma com a situação e, mesmo sem querer, se revolta diante daqueles fatos, pois já estava certa de que todo o processo de separação ocorreria naquela tarde, assim como havia agendado.
– Não, Dr. Carlos. Nós não vamos adiar. – falou olhando diretamente nos olhos daquele senhor que a representava no processo.
– Mas Júlia, argumentou o causídico, esse homem não está em condições de entrar na sala do juiz. Se o juiz perceber que ele está alcoolizado vai mandar prendê-lo, e você, em contrapartida, irá passar por um grande constrangimento. É melhor você desistir, pelo menos, por hoje.
- Não, de forma alguma! Nós vamos entrar na sala, realizar a audiência e concluir, hoje, o meu divórcio – persistiu Júlia.
Nesse exato momento, o nome de Júlia e do (ainda) marido são chamados para entrarem na sala de audiência. Eles entraram. Aparentemente, Luís parecia bem. Ele sentou-se na cadeira ao lado da cadeira de Júlia, se fazendo presente na sala, bem como, o advogado que, aparentemente, demonstrava estar bastante nervoso. “Tomara que ele não se precipite”, pensou Júlia. Ela, Júlia, também estava com muito medo, pois lá fora Luis teria dito para ela que iria mandar o juiz para “aquele lugar” e, além disso, não só o juiz, mas também a promotora e o diretor de secretaria.
Antes de começar a audiência, chega à sala, uma funcionária que serve água para o juiz. Nesse instante, Luís olha para a moça, e simplesmente diz: “quero também”. Foi um momento de extrema tensão para o advogado que representava Júlia e, logicamente, para a própria requerente do divórcio. Os corações de ambos quase pulam para fora, pela boca, de tanta tensão. Júlia pensou “é agora, meu Deus!”. Felizmente, a moça da água deu apenas uma risada disfarçada, como se pensasse “que cara de pau!” - e olhou, em seguida, para o juiz. O juiz, no entanto, mandou que ela servisse água para ele. Enquanto Luís matava a sede, o juiz falou alguma coisa sobre futebol com o advogado. Luís ouviu a conversa e, imediatamente, se meteu no assunto, ficando, os três, conversando sobre uma partida de futebol que tinha acontecido um dia antes.
Cada minuto que passava era uma eternidade para Júlia - e para o seu advogado. A sensação era que havia uma bomba relógio prestes a explodir, a qualquer momento, e para que isso acontecesse só precisaria o juiz perceber como Luis estava bêbado.
Mas antes que acontecesse o inesperado (ou o esperado – pela lógica), começou a audiência com todo aquele processo rápido de uma separação, incluindo aí perguntas, dentre elas, a mais comum de todas: “querem mesmo se separar?”.
Nessa hora Luis responde um “sim” com toda firmeza. Nem parecia aquele homem que chegara até a rasgar os papeis do divórcio, quando da primeira tentativa de Júlia.
A audiência prosseguiu - e a tensão também. Quando o juiz perguntou sobre a pensão dos filhos, Luís - que a essas alturas não tinha mais nem uma renda (pois devido ao seu estágio avançado de alcoolismo não trabalhava mais) -, soltou uma pergunta um pouco alarmada:
- Pensão???
Nessa hora Júlia bateu a perna dela na dele, por debaixo da mesa, e ela mesma respondeu para o juiz:
- Já está tudo acertado sobre isso, meritíssimo.
A sorte de Júlia e do advogado – que a essas alturas suava mais que bico de chaleira -, é que Luis se calou. Ufa! - pensou Júlia, que achara que iria morrer naquele momento.
Felizmente, tudo acabou se resolvendo e a audiência chegou ao seu fim. Júlia não pode deixar de pensar: “ainda bem que foi rápido, apesar de que, diante da tensão existente no ambiente, tudo parecer uma eternidade”. Eles finalmente se levantaram, se despediram - com as formalidades devidas -, é claro, menos Luís que olhou para o juiz e disse:
- Valeu meu irmão!
Nessa hora, Júlia e o advogado abriram a porta da sala, pegaram Luís pelo braço, deram uns sorrisos tímidos para o magistrado e saíram da sala. Até hoje Júlia não sabe se, naquele exato momento, o juiz percebeu o grau de embriaguez de Luís ou pensou que ele fosse louco...