Primeiro Encontro um pouco desastroso.
Conheci um cara que tinha a minha idade. Um coroa charmoso que me ligou, várias vezes, me convidando para sair e, depois de vários desencontros, um dia deu certo. Ele possuía, como transporte automotivo, uma moto, e veio buscar-me em casa, ao meio dia em ponto, quando o sol está de ferver a alma. Depois de nos cumprimentarmos, coloquei o capacete, subi na moto e saímos a procura de um lugar tranquilo para almoçarmos e, consequentemente, conversamos. Como sou observadora, logo percebi uma sacola pendurada no guidom da moto, com alguma coisa dentro. No entanto, não imaginei o que fosse, nem perguntei, até porque, devido ser o primeiro encontro, eu não tinha intimidade para esse tipo de pergunta.
Assim sendo, saímos. Pouco tempo depois, ainda quando estávamos na rua em que moro, ele, o coroa charmoso, parou a moto abriu o saco que estava no guidom e tirou, lá de dentro, um rádio portátil, daqueles enormes!, com certeza muito antigo e, pior: eu percebi que estava ligado e sintonizado na programação esportiva de uma narração de um jogo de futebol. Disse ele:
- Só um minuto, vou escutar esse gol. Em seguida, colocou o rádio no ouvido, em plena rua, comigo na garupa, os dois torrando debaixo do sol de quase 40 graus, enquanto o narrador gritava o gol, que parecia não ter fim. Fiquei pensando como deveria me comportar naquele momento, se desceria da moto ou se ficaria escutando o gol também. Optei em ficar escutando o gol, mesmo com as pessoas passando e olhando, provavelmente, pensando: isso é que é paixão desses dois por futebol!
Também resolvi ficar até porque o narrador não iria passar o resto da tarde gritando o gol.
Terminado a narração, o coroa charmoso, que a essas alturas já tinha perdido um pouco do charme, colocou o rádio dentro da sacola, sem desligá-lo, pois, segundo ele, queria escutar o jogo inteirinho e seguiu em viagem com essa ilustre passageira. Aí diante daquela situação, eu pensei:
-Tomara que não aconteça outro gol antes de chegarmos ao nosso destino – que até então era ignorado por mim –, só que meu desejo não se concretizou, pois, pouco tempo depois, o danado do narrador grita por outro gol. E aí o que acontece? 0 coroa charmoso, e motoqueiro, para novamente a sua moto, tira o rádio de dentro da sacola e repete toda a sua ação de ficar com o objeto no ouvido, para escutar melhor o grito de gol.
Fiquei impressionada com a cena! Mas, tudo bem. Continuei em cima da moto, e analisei pelo lado positivo da coisa: quem sabe eu não passaria apreciar mais um futebolzinho? Afinal eu sou uma pessoa paciente!
Terminado o grito do narrador, meu companheiro novamente colocou o rádio dentro da sacola e seguimos viagem, mas, por pouco tempo. Mal tínhamos atravessado o primeiro quarteirão, ele, novamente parou a moto. Aí pensei:
-Não acredito, outro gol!
Seria paciência demais para quem já estava com a cabeça quente de tanto ficar no sol ouvindo grito de locutor gritando gol. Só que para a minha alegria, o jogo acabou.
Desta vez, ele parou apenas para desligar o seu “raidinho” que, como já disse, não era tão pequenino assim.
Finalmente, seguimos nosso destino sem o danado do jogo.