Uma Noite de Prazeres
Acordou extasiado, num só pulo, ainda nu. Sua pele estava suada, pegajosa, suspirou fundo e aliviado. Sentou na cama. Ligou o aparelho de som, um rádio relógio preto, velho. Tocava Nei Liboa. Gostou. Uma forte necessidade de urinar lhe tomou. Lavou o rosto com sofreguidão e passou as mãos nos cabelos desarrumados. Olhou-se no espelho e gostou do que viu. Com o dedo apontado em riste para o espelho, olhando nos olhos de si mesmo, disse, em tom alto, confiante:
- Peterson Ramos, tu é o cara!
Sua noite havia sido boa! Aliás, sua madrugada havia sido mergulhada de um prazer imensurável, com liberação de dopamina e endorfina e tudo mais. Havia, sobretudo, se deliciado nas curvas das pernas torneadas e robustas e bronzeadas de uma loira de olhos azuis. Mérian Vitória.
Depois do trabalho rotineiro e cansativo da redação do jornal Diário Serrano, por volta das dezoito horas, combinou com o amigo, aliás, o melhor amigo, JP, de se recostar no bar do Tadeu, no centro, para sorvir chopes cremosos e saborosos e livres de qualquer censura.
- Cara, passo aí no teu trabalho às 6 da tarde. Já liguei pro Tadeu e ele nos reservou aquela mesinha do canto, junto à calçada. – Disse JP ao telefone.
- Certo! Vai mais alguém?
- A princípio não. Só nós mesmos. Precisamos apenas de dois exemplares da espécie feminina para nos fazer companhia. E isso não vai ser difícil. Vai por mim.
- Então te espero às 6.
- Até mais.
Conhecera JP nas noites cruzaltenses, em bares e pubs e festas. Era mais velho, tinha seus 35 anos, mas sua forma lhe dava ares de menos. JP era um conceituado advogado da cidade, com escritório particular e tudo mais. Alta estatura, passava horas por dia em academias e nos finais de semana ia até sua fazenda andar de jeetsky com amigos e mulheres. JP era do tipo conhecido por todos, bem sucedido, solteiro, apartamento, carro importado e sempre ao lado de belas mulheres.
- Peterson. Minha vida é vivida por mim, mas para as mulheres! Digo para aS mulheres. Não só pra uma. Uma só não me preenche o coração. Devo tê-lo muito grande. - Repetia sempre JP, causando ainda mais admiração a Peterson.
Na verdade sentia inveja. Queria ter a vida de JP, usufruir de todas as boaventuras que a vida nos proporciona. Pra que nasce o ser humano se não para aproveitar a vida. Para deliciar-se em chopes cremosos, jogar futebol nos finais de semana, rir com amigos, admirar bocas carnudas e peles lisinhas e cabelos lustrosos de todas as mulheres. Ah! Vida injusta!
O que Peterson tinha na vida era um colchão, ao qual dormia no chão, um rádio relógio, muitas contas, alguns pares de roupas e três meses de aluguel atrasado, cobrados com sofreguidão, mas à toa, pelo turco maldito dono do apartamento. Eram 250 reais de aluguel por mês, vezes três, mais 50 de condomínio, devia 900 reais àquele mercenário árabe. Uma fortuna! Não era nenhum mau caráter, nem caloteiro e não negava suas contas. Devia e um dia ia esfregar um punhado de notas de cem reais na cara daquele turco. Ah ia.
- Dono de quase todos os imóveis da cidade e perde o sono pelos meus míseros 900 reais. Que Alá te castigue! - Sentenciava Peterson rotineiramente.
Sentaram ao bar. Logo veio o Baixinho, garçom do local.
- Uma Polar bem gelada Baixinho! - Gritou JP.
- E uma porção de fritas. – Pediu Peterson.
Já devia para Deus e o mundo. Agora não tinha mais nada a perder, possuía trinta reais no bolso, era todo o dinheiro do mundo. Um talão de cheques na carteira lhe salvaria, caso encontrasse a mulher da sua vida.
- Já disse que tu é uma mãe pra mim Baixinho?! – Disse JP enquanto o garçom servia a Polar estupidamente gelada, com a garrafa corada em branco do gelo escaldante.
Conversavam. A pauta da conversa se dava sob dois temas centrais, e todo o resto nada importava. Não sairiam para conversar sobre política ou violência ou sobre a guerra no Iraque. Não, isso nunca. Suas conversas se davam sobre mulheres e futebol. Era sobre isso que conversavam.
JP discursava e sempre era o dono da razão. No início da amizade Peterson até tentou, em algumas oportunidades frustradas, contrariar o amigo, mas logo viu que de nada adiantava.
- Cara. O homem nunca pode se apaixonar! O homem deve ser um caçador feroz, rápido, olhar aguçado, um tigre faminto. Sabe o que acontece quando um homem se apaixona por essas mulheres que andam por aí de sorrisos fartos de dentes brancos e andar sensual? Sabe? Elas pisam no teu pescoço, arrancam tua alma, te decapitam, tomam todo o teu dinheiro e se vão. E sabe como tu fica? Tu fica arrebentado, triste, arrasado. E não há coisa mais vergonhosa que homem triste. Por isso, meu caro, o homem tem que ir em busca de sexo, isso é que deve ser a filosofia masculina – Afirmava JP, com dedo em riste, ofegante.
Peterson não concordava com tudo, mas há de confessar, gostava das histórias de seu hilário amigo JP.
A noite corria normal como todas, conversas, cervejas, risadas. Algumas lindas mulheres freqüentavam o bar. E como dizia seu amigo, as mulheres bonitas andam em bando, nunca uma mulher bonita está em companhia de uma feia. Elas andam juntas. Vão aos mesmos lugares. São como cardumes. E onde estão são rodeadas por homens ricos e mal intencionados. Homens ricos gostam de mulheres bonitas.
Nenhuma era nem parecida com as que sentaram junto à mesa de JP e Peterson, Eram colegas de trabalho de JP, advogadas, uma loira e outra morena, deslumbrantes. Vestiam calças extremamente apertadas que davam mais forma a suas pernas e coxas e nádegas. Suas fragrâncias eram de um frescor amanteigado e suas peles macias.
.. continua.