Vida de Migalhas
Eu realmente estou precisando sair da vida de migalhas, dos homens me tratam como um vento que passou. Sou mais que isso, sou intensa, sou profunda, sou forte, não sou apenas mais uma escritora dramática. Sinceramente, eu ando merecendo uma vida mais doce. Ontem me vi dividindo a mesa com quem há pouco tempo era o motivo de crise do meu passado e pasme - ele hoje se transformou em um grande amigo. E mesmo no final da noite cheia de cervejas ouvi claramente meu coração e dormi sozinha, na escuridão do meu próprio quarto, por mais que os corpos antes estivessem acostumados a terminarem juntos. Ontem eu sucumbi a meu desejo e não sou apenas um pedaço do que deveria ser.
Não sei se veio a ser o vento ou se cansei da eterna necessidade de elocubrar. Ou de esmolar sentimentos inventados de amores mal vividos. Cansei de passar, de aceitar, de esperar... o que eu nem sei se realmente existe. Eu que durante anos tive orgulho de ser filha do vento e por ele aprendi a alcançar os mais altos pensamentos. Acabei por virar memória - digna de receber mensagens na madrugada. Eu virei lembranças inesquecíveis, e depois de toda palavra doce eu tenho pressa e tranformo o em passado e drama. E acabo virando um livro e enquanto espero a ligação de outrém.
Hoje eu gostaria apenas de anestesiar as minhas ânsias – de conseguir não sentir o que deveria ter sido. Ainda sinto. Eu que lhe ao que viveu comigo em prosa tudo para ser grande e não foi nada - e por isso tenho tido dificuldade de me levantar. Eu que faço amigos com a facilidade de uma criança e fumo para acalmar. E nestes dias de poeira – ando menos sorrateira, a boca velada espera apenas o mais um conto terminar.