O nome dela é Hypotenusa
- O nome dela é Hypotenusa... Hypotenusa Ferreira – disse o declarante ao funcionário do cartório de registro civil.
- Hypotenusa não pode – respondeu de cara, o funcionário – pois este não é nome permitido para se colocar em uma pessoa.
- Mas eu quero é este e pronto. Já tá tudo decidido lá em casa com a patroa e este vai ser o nome da nenenzinha – aumentou a voz o pai.
- Meu senhor. Temos que ter o cuidado para não permitir que nomes assim, sabe como?, diferentes, sejam dados às pessoas – tentou explicar o rapaz, ainda com paciência.
- Pois agora o problema tá criado. Vai ser Hypotenusa, com y e não tem esta de nhem-nhem-nhem-nhem – esbravejou o declarante, o Sr. Ferreira.
- Não posso fazer nada – sacramentou o atendente – sentindo que a parada não era para ele resolver.
- O Senhor não acha que este nome não vai ser ruim prá menina? – meteu o nariz onde não é chamado, um cara de bigode preto e sobrancelhas grisalhas.
- Sabe como é? Logo surge aquele papo de: ‘você é aquela do teorema de Pitágoras’, ‘ah! Quero ser um ângulo reto prá te ver de frente’ ou ‘queria ser um dos catetos para estar ao seu lado’, sei não! Ninguém merece – disse o cara do bigode, que fiquei sabendo depois ser professor de geometria no Colégio Estadual.
Quando a conversa estava nesta matemática toda, eis que chega o titular do Cartório, um senhor baixo, troncudo, que não fazia muito esforço para ser simpático. Manja o cara? De poucas palavras, quase monossilábico, que atendia pelo nome de Guido e que não admitia ser chamado pelo apelido ‘Abobrão’. Ninguém ousava soltar um palavrão destes na presença dele. Na ausência, podia, inclusive no Cartório, pois os próprios funcionários morriam de achar graça.
- Sr. Guido – falou com respeito o funcionário – este Senhor aqui quer registrar a sua filha com um nome que não pode ser aceito.
- Humm – economizou o troncudo – com ar de titular, que na verdade ele era e se preparando para ouvir e ouviu com todas as sílabas separadas:
- Hy-po-te-nu-sa –
- Esse não pode – decidiu Sr. Guido, com cara de ‘abobrão’.
- Vai ser esse mesmo e pronto – esbravejou o pai, que emendou – Porque que Agrícola Beterraba e Bananéia Oliveira podem, que eu conheço estas duas!!! – argumentou.
Aqui coloco uma pausa para, de certa forma, aceitar a argumentação daquele pai, embora não concorde que nomes estrambóticos assim sejam colocados em pessoas. Mas que existem, existem. Entrei no Google e achei um montes deles, como:
Bizzarro Assada, Chevrolet da Silva Ford, Colapso Cardíaco da Silva, Esparadrapo Clemente, Estácio Ponta Fina, Faraó do Egito Souza, Farmácio Lopes, Rolando Escadabaixo, Horinando Pedrosa, Boaventura Torrada, Gravitolina Pereira, Primeira Delícia Figueiredo, Pelumendia Loureiro, Presolpina Furtado, Dosolina Piroca, e o ‘campeoníssimo’ Um Dois Três de Oliveira Quatro.
Dito isto, voltemos ao Cartório pois a situação não estava para acabar em pizza, como em Brasília, até pelo contrário.
- Então tá!!! Hypotenusa não pode, né? Até Bucetildes eu já vi... Hypotenusa não pode... Tá bem... Vou procurar os meus direitos – gritou Hidráulico Ferreira, que se retirava ‘tiririca’ de raiva como quem perde um round mas não perde a luta.