A Dona de casa

A casa começa a ganhar forma, mais ainda não toquei na roupa suja, a cômoda nova, os espelhos, os quadros, a personalidade começa colorir o branco. Pelo menos a cozinha tem sido utilizada na sua melhor forma, molduro pratos e coleciono louça. Ando com as luvas amarelas e a água quente para limpar tudo. Invento desculpas - provoco brigas e finjo que não estou, quase Cazuza, vou arrumando meu novo lar. Onde as flores de plástico não morrem, onde a parede vira jardim e eu começo a ter vontades. São dias assim, sem definição, que as coisas começam simplesmente a se desenhar e eu acordo ainda cheia de sono para trabalhar. Ando tropeçando na minha própria preguiça. E sinceramente em dias assim, de modelagem, não adianta se traçar planos, por mais cheia que esteja a minha agenda, ou desejar novos devaneios ou até mesmo ludibriar a mala na mão no destino de novos caminhos. Em dias assim, apenas se senta no sofá e se assume a nova função: dona de casa.

São dias de calma em uma leveza ansiolítica – onde passo o dia de sono no sofá, onde começo a delimitar espaços, onde coloco quase uma placa de inauguração na minha nova casa, por isso desculpe meus contos de amor, ou até mesmo os amantes, hoje eu não tenho mais tempo para eles, não quero ansiedade ou agonia – não entra mais na minha nova casa o sofrimento do eterno esperar, são em dias assim, que eu como a dona do castelo assumo minha grandeza. E nestes dias não se precisa esperar muito da vida – por que apenas temos a certeza que esta será plenamente feliz. É o prenúncio de um novo ciclo, doce e de paz.