SERÁ?
Terminara de ler as correspondências... Não eram suas, mas de forma estranha sentia como se fosse uma daquelas pessoas que ali derramavam palavras de buscas, questionamentos e esperanças. Não sabia com quem se identificara mais. Será que trazia em si marcas profundas que ambos naquele início de trama possuíam também? As marcas de desejo ardente, profundamente buscado, de desenvolver, aperfeiçoar e partilhar o que de melhor e mais querido tinham. Sentia como eles: tinha a mesma sensibilidade, sua arte, sua insaciável busca pelo novo desconhecido e repleto de significados e histórias.
Correspondências que viajaram o mundo inteiro! Lidas por outros milhões de pessoas que, muito provavelmente, tenham tido as mesmas impressões. Será que alguém poderia ter uma impressão tão parecida como a sua?
Queria que aquelas fossem suas, somente. Queria que as coincidências de lugar dos últimos dias, nas fictícias situações passassem de meras semelhanças de sonho. Será que um dia conseguiria? Que tornassem a concreta realidade, preferencialmente com uma placa em néon bem chamativa dizendo: É pra você! Eis a sua realidade.
Como se fosse algo do tipo: Arrume outros sonhos, porque este já é realidade.
Acordou de repente, com o som estridente de um trovão – tão incomum na região em que temporariamente fixara-se. Não aconteceu? Será que foi apenas um sonho? Percebeu, então, que o livro com as correspondências jazia semi-aberto sobre seu abdômen, e a página que primeiro olhou em seguida foi justamente aquela na qual o pássaro verde olha para a pena azul e parece questionar a si mesmo com a típica timidez dos inexperientes: Será que já tenho idade pra voar?