O bolo
Não me lembro do exato momento em que perdi o controle, mas só dos braços me arrastando pra fora da casa direto para o meio da rua escura e molhada. Chovia muito e não consegui entender direito o que todos gritavam pra mim, mas girava em torno de: "nunca mais volta aqui", "seu merda", e claro, o favorito de todos, "é um babaca".
Acho que tudo começou com o soco. O soco foi o momento em que perdi o controle, mas por que diabos mesmo eu bati nele?
Havia também alguém tentando me processar. Eu to molhando, longe de casa, sem carona, provavelmente sem namorada, e, sim, me ameaçam me processar. Caro, eu ja fui suficientemente punido pela ira divina. Grato pela atenção.
O maldito sorrisinho. Sim, o maldito sorrisinho depois do “Parabéns”. Era tudo culpa dele. Estava tudo correndo bem na festa e até me esforçava ao máximo para ser simpático até o ex dela chegar. Ok, a família gosta mais dele, mas eu tudo bem, não me importo. Lições de auto confiança. Tias, mãe, primos falando o quanto sentiam falta dele, que a família nunca seria completa sem ele, mas aguentei firme e forte. Até o “Parabéns”.
Acho que foi a maldita prima gorda e encalhada que puxou o "Com quem será" e claro, que cantaram com o nome dele. Por que não cantariam? Não ia ser minha presença lá que ia impedir a família de me humilhar mais um pouco, mas levei na esportiva, como sempre, até vê-lo esticar o braço no ombro dela. Vi em câmera lenta os lábios deles formarem aquele maldito sorriso e aquela piscadinha pra mim.
Concluindo, pulo na mesa, bato nele, mas bato bem forte, pego a cabeça dele e esfrego contra o bolo, chuto um tio, xingo a prima de puta até conseguirem me tirar da casa. E mesmo sendo arrastado pra fora ainda consigo chuta-lo no saco e xingar algo entre “Cuzão de merda” e “Filha da puta de um caralho” mas acho que saiu “Culha da murta de um maralho”, o que me faz parecer um idiota maior ainda.
E aqui estou voltando pra casa na chuva, com frio, molhado e provavelmente a um passo de uma gripe e um processo.
Mas aquele sorrisinho...