Á tarde, fria como a manhã.
Durante a tarde algumas pessoas simplesmente param e observam; enquanto outras passam com demasiada pressa para seus destinos.
O jovem parou, junto duma arvore, á principio vencido pela exaustão, pois dera voltas em torno do parque durante a metade daquela tarde fria, e cansara-se de sobremaneira. Ele era frágil, pois outro jovem da mesma idade não se cansaria por simplesmente dar voltas á pé, em marcha, em torno dum parque. Sentou-se ao lado das grossas raízes da arvore, e ficou pensando nalguma coisa.
O que ele tentava compreender era o porquê que aquela pessoa que marcara com ele para se encontrarem no parque não apareceu. Era de se espantar com isso. Alguém tinha lhe convidado para se encontrarem e passearem juntos, enquanto o jovem trabalhava no escritório, durante o dia. Foi através do telefone que marcaram. A voz era de mulher, o que aumentou ainda mais sua curiosidade; e ao perguntar o nome dela, o jovem não obteve resposta. Era realmente estranho: Alguém desconhecido, uma mulher, marca um encontro consigo num parque, e não comparece! Acabou por se tornar algo que aumentara sua melancolia, e lhe dava náuseas pensar sobre isso. Chegou à conclusão de que alguém brincara com ele, e possivelmente esse alguém estaria rindo e debochando dele, o quê o entristecia. Apesar de jovem, era um sujeito solitário, acostumado a permanecer sozinho em sua casa, trabalhar sozinho e não buscar alguém para se aproximar. Era como se ele fosse alto-sustentável, e ate seus piores sentimentos de dores e de solidão pudessem ser vencidos por ele sem grandes esforços, na escuridão de seu quarto solitário. E agora não passava de um tolo nas mãos de alguém.
Olhou para debaixo das raízes da arvore, e encontrou um bolo de papel ao lado duma caneta; um papel bem branco, apesar da terra no local. Tinha sido escrita com uma letra miúda, apesar do conteúdo pesado de seu tom. Havia sido uma mulher quem escrevera.
Será que era a mesma moça com quem marcara aquele encontro, de manha? Por instantes, o rapaz foi tentado a achar que era, e nesses instantes sua alegria voltara com mais força. Mas durou ate que soube daquilo que a moça se preocupava em passar com aquela carta: Ela havia discutido com seu namorado naquela mesma manhã, e por ódio sentiu vontade de deixar algo escrito para quem porventura lesse o papel. O rapaz sentiu que qualquer esperança em se encontrar com alguém naquela tarde se desvanecia, o que não era de todo ruim para ele, visto a sua timidez e individualidade. Sem esperar mais ninguém, sentiu uma aproximação com a moça da carta; seus problemas se aproximavam de alguma forma, mesmo ele sendo de autonomia solitária, e a moça, sofrendo pela companhia de alguém e suas falhas; e compartilhou com ela seus medos e fracassos á medida que ele avançava na leitura do papel e ela se entregava a ele com uma sinceridade nunca antes oferecida ao rapaz por ninguém.
Ele contou a ela, no segredo da leitura triste e sussurrada, que jamais tivera uma vida a dois, mesmo ele vivendo sozinho á tanto tempo. Disse também que morava a mais ou menos dois anos num condomínio fechado, e demonstrou para ela o quanto que se sentia “claustrofóbico” dentro daquelas muralhas. Ela contou para ele que a manhã era esplendida, mesmo estando fria e a neblina ocultando as copas das arvores; que apesar da discussão com seu namorado, não deixara de observar a beleza contida naquela manhã, e que a neblina e o frio apenas aumentavam sua melancolia. Sentindo o frio da tarde que começava a aumentar, ele olhou para as arvores e tentou imaginar elas com a neblina, e se sentiu intimo dela. Pegou a caneta, e escreveu logo abaixo:
“Nada importa, realmente; nem isso e nem meus problemas pessoais. Somos todos vazios, tristes e melancólicos, por que se importar? Esperamos por alguém que possivelmente não vem, e possivelmente nem exista, pode ser uma peça pregada por nosso cérebro, este cheio de inclinações para fantasiar tudo! Mas esperamos mesmo assim. Precisamos esperar alguém, ou alguma coisa, pois do contrario faleceríamos. Mas o quê importa?”
Concluiu seu pequeno depoimento pessoal, e pôs o papel de volta no mesmo lugar, junto com a caneta, e sorriu. Levantou-se reclamando do frio, e quando enfim caminhava no parque, prometeu que voltaria de manha para ver como ele era nublado. Continuou sorrindo.
Horas depois, já á noite, um casal de namorados aproximou-se da arvore, rindo alto. Era a moça que, após reatar com o namorado, estava zombando da carta que escrevera e que deixara ali, num acesso de raiva. Ela pegou o papel, agora melhor arrumado debaixo da raiz saliente da arvore, e ao ler o texto do rapaz levou as mãos a boca e começou a rir como se fosse uma convulsão. Ao mostrar para o namorado, não conteve e disse “cada louco” como comentário. O namorado amassou o papel rindo, rasgou-o e jogou-o no lixo.
De manhã, estava nublado e também fazia frio; no meio do parque surgiu a figura esguia dum rapaz que, dando voltas ininterruptamente, tentava encontrar a arvore que na tarde anterior amparou sua solidão, dando-lhe alguma coisa de esperança; não encontrou!