O desespero de Santa Rita.
Eu ainda dormia o sono dos justos, pelas seis horas da manhã, quando fui chacoalhada por Santa Rita que, desesperada, me gritava por socorro.
Meu coração foi a mil! Minha filha acordou assustada. E Santa Rita, apavorada, falava sem parar:
- Minha Paróquia está sendo atacada. Socorra-me, por favor! Ouça os tiros! Estão metralhando tudo!
Tentei acalmá-la, mas ela estava desesperada por demais! Dizia que as criancinhas, os velhinhos e até os cachorrinhos estavam apavorados também, com aquele tiroteio.
Confesso que até eu fiquei, já que o barulhão não parava e parecia vir da casa vizinha.
Por um momento cheguei a pensar que alguém estivesse atrás da Santa para eliminá-la.
Santa Rita não conseguia ficar tranqüila. Seu desespero era enorme e eu, dentro de minhas limitações, tentava acalmá-la, mas de ouvido em pé.
Depois de uns cinco minutos de tiroteio o silêncio voltou novamente e a Santa se acalmou. Ficamos então conversando ali no quarto tentando encontrar uma explicação para o fato àquela hora da manhã.
Foi nesse momento que minha secretária chegou e disse que a Paróquia de Santa Rita estava repleta de fiéis que soltavam um foguetório em comemoração ao seu aniversário.
Olhei pra Santa, ela pra mim, e respiramos aliviadas! A seguir ela juntou as mãos, olhou pro céu e suplicou:
- Pai, tenha piedade de meus fiéis!
E olhando mais uma vez pra mim, lá se foi ela, resignada, ao encontro dos que tiveram a “sábia inspiração” de homenageá-la com um foguetório em plena segunda-feira, às seis horas da manhã.
Voltei pra minha cama para tentar recuperar os minutos perdidos de sono, mas não consegui.
Então fiquei pensando comigo mesma: Não podiam eles terem feito aquela homenagem, com todo aquele foguetório, ao meio dia?
Com certeza ninguém teria blasfemado e ela não teria ficado tão desesperada.
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Do Livro: "Denúncias Poéticas, Contos e Crônicas" - Pág. 56