Biscoitos da sorte

"O garçom da mesa ao lado tem uma arma."

O biscoito da sorte. Essa era sua parte favorita da comida chinesa. Na verdade, ele nem gostava tanto da milenar culinária orienta. Ia aquele restaurante só mesmo pelos deliciosos biscoitos. Achara um absurdo quando seus amigos lhe disseram que era possível compra-los sem ter que pagar por uma refeição inteira. Ora, todo o sabor do biscoito da sorte estava em comê-lo após todo aquele macarrão e frango oleosos e mal temperados.

Achava muita graça nos recados. Havia aqueles que beiravam a auto-ajuda ("Para fazermos algo grande precisamos agir tanto quanto sonhamos") e até mesmo a ironia das frases ambíguas e sem sentido ("Não faça certo, não faça errado, faça do seu jeito"). Sempre imaginava como seria a pessoa responsável por escrever esses recados. Ou uma senhora de meia idade viciada em literatura barata ou algum jornalista fracassado munido de uma vasta coleção de sites com frases de efeito. Imaginara o simpósio dos escritores de bilhetes de biscoito da sorte cujo tema principal seria os efeitos das frases de efeito na modernidade.

Efeito era a palavra certa. Depois de comer, desdobrar aquele pequeno papel e ler algo que tenha algum impacto e possa mudar sua vida. Ele sempre se predispunha a seguir o conselho dado por seu biscoito, mas acabava sempre esquecendo da tal frase após sair do estacionamento do restaurante. Mas nenhum recado até hoje tinha lhe causado o efeito que esse lhe causaria.

"O garçom na mesa ao lado tem uma arma."

A principio achou graça. Desta vez tinham se superado. Seria alguma ação publicitária? Em sua estupefação, quase não teve tempo de virar-se para e ver o homem vestido de traje chinês sacar sua pistola e disparar cinco tiros contra seu peito.

Duas semanas depois de sair do hospital ele prometeu: Nunca mais comeria biscoitos da sorte. Descobrira um hobby mais seguro e divertido: Ler o horóscopo.