O canto do pássaro
Ao meu redor, um mundo em preto e branco, onde diversos edifícios beijam o céu já nublado, fazendo do cinza a cor predominante em meio à cidade. Sobre a lente, o vermelho de uma balança já castigada pelo tempo e que balança já sem alegria em meio ao olhar triste da menina de cachos dourados perdida e entregue ao mundo. Em suas mãos, o milagre da natureza que nascera em meio à impureza do solo já castigado, onde em um gesto simples, um leve sopro, se desfaz o dente de leão, plumas leves e brancas que dançam sobre a brisa e se espalham em meio ao ar impuro da cidade. Ao lado sobre um chafariz, o canto dramático de um pássaro deslocado que abafado pelo stress da multidão, segue com suas asas feridas cantando e fazendo das suas dores melodia. Incapaz de poder voar, ele então canta, canta alto, canta lindo e vive a sua liberdade em cada nota que convida a menina a se aproximar, ela o observa atenciosamente admirando o seu canto que lhe faz abrir um lindo sorriso. Ela o segura em suas mãos, o afaga, cuida de suas asas e logo o observa levantar vôo. O canto que a afagava, já não se fazia mais presente e mesmo feliz por ele, ela já não sorria mais. Foi então que me aproximei dela, observei junto a ela o pássaro seguir o seu destino e disse que fora a coisa certa a se fazer, ela então me olhou nos olhos e disse:
“Seu canto era lindo, não era? Mas de que adianta um pássaro sem asas, se a sua beleza parte de sua liberdade, do seu dom de poder voar? Agora ele poderá cantar livre para o mundo e espero que seu canto traga a ele o mesmo que trouxe a mim, mesmo que por um breve momento”.
E a lente chorou…