Adolfo repórter

Já viu aquele cara assíduo ao trabalho, pontualidade britânica, um "gentleman" no convívio diário com os colegas? Este era o Adolfo Figueiredo, repórter esforçado, gente boa, pau prá toda obra, que fazia de tudo que lhe mandavam fazer e mais um pouco, sempre com a mesma disposição, mais animado que funcionário no seu primeiro dia de emprego.

- Deixa comigo, Sr. Tancredo, vou até a Prefeitura prá fazer a reportagem. Dizia o nosso protagonista, num grave de locutor de estúdio, que contrastava com o seu tamanho econômico.

Este era o nosso baixinho de voz grossa, obediente ao Sr. Tancredo e à sua mãe Edviges. Para bem comparar, diria que ele era mais obediente que segundo piloto da Ferrari na Fórmula 1.

A sua mãe, a Edviges, era um doce de pessoa e vivia lendo curiosidades sobre o significado dos nomes, um passatempo favorito e estava ficando craque nisto:

- Adolfo significa “lobo nobre” e pode ser interpretado como “guerreiro forte”, dizia a dona Edviges, que vem do germânico e significa “mulher guerreira”.

Porém...

Sempre há um porém... o Adolfo cometia alguns atropelamentos à língua pátria ou, em outros casos, falta de entendimento de alguns vocábulos. Deslizes que impedia, por exemplo, que se concedesse a ele o conceito máximo. Seria distração, talvez, para ser mais condescendente e, em consideração ao seu lado de moço bom. Pode ser...

Nada que não pudesse ser corrigido e, neste sentido, o patrão estava sempre cobrando dele, maior atenção para não cometer estes equívocos, recomendando sempre, uma boa leitura, o livro que fosse, que, de certa forma, pudesse agregar os conhecimentos ao nosso “gente boa”.

- A entrada ao teatro logo mais é gratuíta. Errava o Baixinho ao cravar o acento tônico no “i”.

- O evento da Associação dos Aposentados é beneficiente. Outra falta de eficiência do repórter.

Como se vê, os pecados não foram tão cabeludos assim. De qualquer forma, o comunicador deve estar sempre atento e não confundir “tomada de porco com focinho elétrico”, ou melhor, “tomada elétrica com focinho de porco” – (eu não disse para ficar sempre atento?)

Mas...

Sempre há um mas... Todo o repórter tem o seu dia aziago.

E assim, Adolfo Figueiredo, repórter esforçado, gente boa, pau prá toda obra, mais animado que funcionário no seu primeiro dia de emprego, voz grave, estatura econômica, mais obediente que segundo piloto da Ferrari na Fórmula 1, empregado do Sr. Tancredo, filho de Dona Edviges, também teve o seu dia.

Foi num evento em que se inaugurava o busto de uma pessoa muito querida na região e com uma larga folha de serviços prestados à coletividade, uma frase das antigas, para se adequar à figura de muitos janeiros que ali estava presente, em corpo, alma e espírito, o Sr. Salustiano, que significa “saudável”, na pesquisa de dona Edviges, nome que representava bem o homenageado, apesar da idade.

Depois de se posicionar ao lado do homem do busto e do busto do homem, Adolfo preparou o vozeirão, soltou esta pergunta e se lascou:

- Sr. Salustiano, como o senhor se sente diante desta homenagem póstuma?

Ao que o Sr. Salustiano, com agudeza de espírito, respondeu:

- MORTO.