Na frente do passado

E quem disse que “todos devem encarar o passado de frente para curar suas feridas”, esqueceu de avisar o risco que eu corria. E, o pior, eu só me sei conta – do estrago quando abri a porteira e o encarei frente a frente. Era de um lado o vazio do presente e do outro todos os fantasmas do passado, reunidos de mãos dadas e me esperando. E este como todo conto bem contato, teve em principio a união perfeita - a ilusão se nutria com a força devastadora de um tufão. E sinceramente como um dia eu poderia ter imaginado que esta história poderia terminar bem? A ilusão intoxica, nos deslumbra e pouco a pouco nos tira os pés do chão. E no meio do tufão aberto em pleno sábado à noite, só sei que fisicamente ainda estou inteira.

Mas só sei que depois de seu estrago – em apenas uma semana, perdi uma vida, chorei rios, sofri como terminal, menti à minha terapeuta e desabafei com minha mãe. Tudo isso apenas para encarar de fato de que sou forte – de que já tinha coragem de me colocar a teste, de que eu o havia esquecido. Ledo engano... A criança mimada, se põe a teste, se encara. Carente, eu necessitava de atenção e no fim das contas, com a verdade nua e crua, desprovida de maiores cuidados - acordei de mais um devaneio.

Sim, eu sei, sozinha eu abri a porteira que demarcava o fim do inicio ou o início do fim e acredite: aprendi as conseqüências. Então hoje, só peço licença para me recolher, para dizer: sim eu me arrependo. E dizer ou pelo menos esboçar “nunca mais”, frase que será por mim repetida tantas e tantas vezes a ponto de ecoar como um mantra e virar realidade. E eu nunca mais pensar que dei outra chance a você.