O frio mórbido

Tenho me sentindo morbidamente cansada – as voltas das mudanças gera um vento quase tempestade – nem a neve de Madrid se fez tão fria.

Mas neste meio tempo a vida vem andando, coração morno de tanta paz, entre obstáculos e mágoas – decisões e escolhas – mais ainda andando de mãos dadas na mesma estrada.

Engraçado como nestes períodos pegamos situações - antes tão desdenhadas – e as transformamos em desejos. Os sonhos mudam ganham a importância mediante as coisas corriqueiras, nunca me vi nesta fase. Deve ser o vento que agora não balançam mais tanto os meus cabelos, porque em um ato de valentia os cortei.

Agora a casa começa a ganhar forma e a solidão ruge os dois quartos ainda desocupados, sim ano de mudanças, ano de silêncios ano de reconhecimento.

Agora que consigo de certa forma ver os rompantes, as guerrilhas, as novas aceitações, nossa como mudei, como me modelei sem forma, como supri embriagadamente cada mágoa, cada desesperança e cada desafio.

Nem sei se consigo mais me reconhecer, ando torta, redonda, afiada, não guardo nada – não suplico mais piedade, tenho resolvido minhas crises num sofá. Sessões intermináveis semanalmente – que me ajudam a retomar minha razão.

Agora é fato, a menina que há um mês se viu em plena Paris, agora é uma mulher repleta de contas e com uma casa só dela. E nem mais o frio mórbido das noites em claro vão conseguir tirar isto de mim.