Tanto fez, tanto faz...

Todos os dias, perto do ponto onde eu pegava o ônibus para voltar para casa, ficava sentado um mendigo bem velhinho, de olhos claros, barba e cabelos brancos. Desde a primeira vez que o vi simpatizei com ele, e notei pelo seu olhar que o sentimento fora mútuo.

Foi num dia como outro qualquer que ele chegou até mim (eu sempre estava sozinho no ponto) e perguntou?

- Moço... você tem um real?

Eu sorri, apanhei uma moeda que tinha no bolso e entreguei para o ancião. Ele apanhou o dinheiro, agradeceu, baixou os olhos e perguntou:

- Moço... o Sr. é Deus?

- Não... - respondi meio abobado, até então nunca tinha notado sinais de que ele tinha alguns parafusos a menos.

- Ah... Seu ônibus chegou! - me disse ele então. Eu entrei e parti.

Desse dia em diante essa história passou a se repetir sem muitas variantes.

Todos os dias ele vinha até mim, me pedia um real, eu dava ou não (passou a ser um hábito deixar o real dele separado quando eu tinha), ele me perguntava se eu era Deus, eu respondia que não, ele avisava que meu ônibus estava chegando e eu ia embora.

Foi dentro do ônibus num belo fim de tarde aquilo começou a me intrigar. "Na próxima eu pelo ele!", pensei comigo.

No dia seguinte, na mesma hora, no mesmo local, a história ia se repetindo. Ele veio até mim.

- Moço... você tem um real?

- Aqui está! - sorri e lhe entreguei a moeda.

- Moço... o Sr. é Deus?

- Sim!

- Ah... Seu ônibus chegou!

Eu entrei e parti.

FIM

Betaldi
Enviado por Betaldi em 09/08/2010
Código do texto: T2426976
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