Lembranças dele

Ela gosta de fechar os olhos e lembrar-se da primeira conversa que tiveram. Foi há tantos anos, foi libidinosa, mas tão ingênua, exatamente como uma conversa entre adolescentes deveria ser. Ele a desejava como o ar que respirava. Ela o temia por ainda não entender nada do amor. Eles que haviam tantas vezes se encontrado nos corredores, mais nunca conversaram, sorrisos eram trocados, gestos faceiros se davam, mais nenhuma palavra era dita.

Até que numa tarde de chuva em plena terça-feira, ela estava sozinha na mesa do canto da biblioteca. Ele a abordou, tímido – por mais popular que fosse. Ela sorriu prepotente, por se achar uma adolescente rebelde no inicio de sua vida boêmia. Eles dividiram uma mesa, eles iniciaram instantaneamente a dividir pequenos pensamentos, de repente quando anoiteceu um sabia que o outro faria parte da sua história para o resto da vida.

Hoje, dezoito anos depois, os dois ainda se falam – ela jornalista e ele advogado. Ambos sempre se separando, ambos que ainda conseguem conversar a noite inteira como se o assunto nunca acabasse, ele que todo aniversário dela manda flores e ela que ainda sorri prepotente de seus devaneios.

Eles que formam o casal mais fiel da vida dos dois, mais nunca se beijaram. Ele que ainda é o único homem – que a ama exatamente como ela é. E ela sempre o recolherá no fim de seus namoros. E como força do habito dividirão uma garrafa da vodka, que ela na adolescência o ensinou a beber, e serão felizes para sempre. Exatamente como aconteceu naquela terça-feira de chuva, onde dois mundos se cruzavam, eles sabiam, para toda a vida.