Reparar é bom ou ruim?
Na fila do caixa eu estava esperando a vez de ser atendido, observando todo o ambiente do banco reparei que entraram três homens diferentes na agência. Diferentes pra mim, talvez para os outros que se encontravam ali não tão estranhos. O que parecia ser o maior deles, com olhos verdes e bem claros dá uma olhada para todos os caixas e senta-se, o mais baixo entre eles também de olhos verdes e com apenas um sapato no pé sendo que o outro pé estava com o dedão machucado, entra, abre uma porta que só os funcionários têm acesso, olha minuciosamente e se aconchega em outra cadeira. O terceiro deles, me parece ser o mais novo do grupo, está com dois envelopes de depósito na mão, observa lentamente todo o movimento que acontece no banco movimenta-se um pouco e procura imediatamente um lugar para sentar-se. Até o momento tudo está tranqüilo, conversar paralelas entre as pessoas e eu olhando atentamente todos os movimentos desses desconhecidos. Em seguida a porta do elevador se abre, sai de lá um senhor que me parecia ter entre cinqüenta e sete a sessenta anos de idade, usava duas meias longas e andava mancando e parecia ter algum problema nas pernas, também um homem desconhecido pra mim, já que eu conheço praticamente quase todas as pessoas que moram na cidade que resido. Sem observar muito o ambiente do banco, esse senhor troca algumas palavras com os três primeiros homens que chegaram há alguns minutos antes na agência. Eu ainda em observação de todos os movimentos desses homens noto que o maior entre eles abre sua agenda e começa a escrever. A minha curiosidade faz perceber que ele apenas fingia naquele momento. A partir daí, ele percebe que eu estava a observá-los. De repente chama a atenção dos outros companheiros e disfarçadamente alerta que eu estava atento a tudo que eles estavam fazendo, em um simples gesto que ele fez notei que estavam falando de mim. Passei a disfarçar também, mas a cada instante que eu passava o olhar sobre eles via que os três já estavam também a me observar. O mais jovem deles não para de olhar para os caixas, percebi que ele já estava ficando nervoso de mais, pois não tirava a caneta da boca e nem parava de coçar o rosto. Em seguida, um dos atendentes do caixa do qual eles estavam sentados próximo é notificado que alguém o chama ao telefone, ele faz menção de levantar-se, mas diz que depois iria atender, pois ainda estava ocupado com o atendimento. Dois minutos após o telefone toca novamente e seria para o mesmo funcionário, ele levanta-se para atender, nesse instante um dos homens sendo aquele que estava apenas com um sapato no pé, rompe um pedaço de madeira que servia como barreira para entrar para o caixa e o mais jovem entre eles encosta-se ao outro caixa com seus dois envelopes e pergunto ao funcionário em qual dos dois envelopes pode fazer depósito em dinheiro. Sem perceber o que acontecia ele deu a informação, mas não percebeu que estava sendo distraído para que o outro homem entrasse pela barreira e pegasse o malote do banco onde provavelmente tinha dinheiro para ser contado. Eu, percebendo tudo e já trêmulo sai da fila de espera e fui próximo da máquina de senhas para pegar o meu capacete e tentar sair disfarçadamente para avisar aos guardas o que acontecia. Assim que peguei e me virei já topei de frente com um dos homens, o maior entre eles, aquele que percebeu que eu estava observando-os. Ele, para tampar a minha visão e não ver o que acontecia, ficava na minha frente perguntando onde é que ele poderia pegar a senha e eu disse que era naquela máquina ali atrás, mas mesmo assim ele insistiu e não deixou que eu passasse, nessa jogada dele um deles pegou o malote e saiu rapidamente e em seguida ela me agradeceu pela informação e desceu rapidamente a escada. Quando o funcionário do caixa que foi roubado voltou do telefonema um dos clientes lhe informou que um rapaz saiu com um malote na mão. Desesperado o funcionário saiu correndo alertando aos guardas que o banco foi roubado. Mas já não encontraram os suspeitos. Como eu tinha notado que o senhor que usava meias longas também havia conversado com esses homens, avisei ao funcionário do banco que ele também fazia parte desse grupo de ladrões. Foram à procura desse senhor, a polícia já havia sido avisada e encontraram o tal velhinho na garagem de uma empresa de ônibus no qual já se preparava para embarcar. Os polícias o trouxeram para o banco e fez com que ele entregasse quem pertencia a esse grupo de ladrões, mas ele negou-se a dizer e negou que havia entrado naquele banco, mas eu e o segurança vimos que ele estava na agência e confirmarmos para os policiais. Após o senhor ser preso, fui até a delegacia dizer o que eu tinha observado. Daí deu uma ordem de prisão para o senhor e foram em busca dos outros que fazem parte da quadrilha em uma cidade vizinha, pois seria lá o ponto de encontro de todos eles para fugirem e realizar outros roubos...
Após uma tarde e uma noite de muita angustia, fiquei a me perguntar, seria bom ou ruim reparar em tudo o que acontece nos lugares onde estamos?
Eu observo e fico atento a tudo o que vejo talvez não seja bom ser assim, mas quem sabe ajuda em algo importante na humanidade.