Outro final
Ela não esperava mais nada. Sabia que depois de um longo sumiço ele reaparecia. Como se nada tivesse acontecido. Como se ainda estivessem juntos. Como se fosse habitual. E como de costume ele a convidaria para seu apartamento e ela aceitaria. Sabendo como seria. E o que ele teria a oferecê-la.
Eles já haviam tentado uma vez, logo no inicio. Saíram semanas e se divertiram... Ela tinha acabado um relacionamento difícil, ele havia sido traído. Um se sustentava no outro, mais ainda não havia um sentimento que segurasse a relação. Em meio as suas mágoas, ele teve seu primeiro rompante, entre o medo do sofrimento e a dificuldade de deixar fluir, terminaram.
Depois de meses ainda se encontravam. Dessa vez, não seria diferente das outras, pensou ela. Mesmo sendo à tarde já que ele só a procurava no meio da noite. Quem sabe estivesse carente, pensou e em poucos segundos riu de si mesma, ele deve ter bebido, concluiu. Ela estava num chopp de amigas, quando ele a ligou. Marcaram uma hora para um encontro. E ela foi. Ele a esperava na portaria. Ela estaciona seu carro, o fitou por alguns segundos, respira e vai em sua direção. E logo que ele a vê abre um grande sorriso e a beija.
Subiram as escadas como já era de costume. Conhecia bem aquele caminho. Ele abre a porta ainda sem muita fala. A fitou por alguns segundos e falou como vc ficou tão mais bonita? Ela respondeu, estou apenas mais leve. E por isso mais feliz. Eles entram em seu apartamento, pequeno, mais ideal. Ela se acomoda no sofá, enquanto ele a traz uma cerveja. Ela acende um cigarro, ele não fuma, mais já a conhece e lhe traz um cinzeiro.
A conversa flui de forma boba, pequenos fragmentos de histórias, algo cotidiano quase banal, no silêncio, eles se beijam. Ele com a mesma doçura de sempre, daquela que não a pertence, e que lhe é dedicado enquanto eles estão juntos. Ele aos poucos a testa, a mede, a sente. Tira demoradamente sua roupa. E a convida para o quarto. Eles se beijam, se olham, se tocam. Encaixam-se. Diferente das ultimas vezes, eles se querem, se acarinham, se importam. Ela treme, ele goza. Suados e acabados eles levantam, ele rumo ao banheiro e ela o espera. Na esperança de algo ter mudado. Com a sua demora ela começa a se vestir. Entendendo que o seu papel ali já tinha acabado. Ele se senta no sofá e a olha. A fita durante o tempo em que ela fuma novamente outro cigarro. Ela se veste e vai embora. Já na porta ele a chama e a pede para dormir com ele e em poucos segundos se arrepende, muda a feição e se despede.
Ela vai embora, ele a observa, querendo falar alguma coisa, querendo implorar para que ela ficasse, querendo que ela fosse só dele, pelo menos naquela noite. Ela me faria feliz, pensa. Mais não consegue emitir um som. Apenas a vê indo embora. Esperando que olhasse para traz e o pedisse para ficar. Queria explicá-la que não havia mais problema. E que agora ele realmente a queria. Mais ela se afastava. Liga o carro e vai embora. Ele vê sua imagem diminuindo até que ela vire a esquina. Volta a cama e ainda sente o seu perfume. Como se ela fizesse questão de acompanhá-lo a noite toda. Acende a luz, o cheiro seu perfume, se confunde com o de cigarro. E ele vê a sua doçura de menina e a força de uma mulher. Não a entende. Por que ela foi embora tão rápido.
Ela no carro não o vê a observar. E como sempre sai da casa dele com a sensação de que nunca mais vai vê-lo novamente. Como seu silêncio a incomoda. Era como se ele não a visse, como se ela servisse apenas para satisfazê-lo. Por mais prazer que sentisse repetia: Essa foi a última vez. Por mais doce que tenha sido, por mais bem que eles se dessem, por mais carente que se sentisse. Essa seria a ultima vez.
Dois dias depois seu telefone toca, e ela não atende. Repetindo, aquela foi a ultima vez. Ele insistiu ligou novamente disposto a abrir o jogo, a convencê-la que queria fazê-la feliz, que deveriam tentar de novo. Mais ela não o atendeu. E ele novamente desistiu.