O mineiro

Ele vestia uma blusa de gola alta branca. De uma forma peculiar. Sentia-se a realeza, estava bem em seu altar. Vislumbrava as mulheres como presas a comprar. Falava alto, era rude, bebia sem parar. Era o dono da festa a ponto de mandar em qualquer pessoa que fizesse sua vontade vingar.

Não olhava para o lado, andava rodeado. Seus súditos queriam tudo que ele viesse a dar. Não, não era apenas seu jeito de vestir que me fez o observar, ele era tão grosseiro que chegava a assustar, um menino, um homem, um bruto. Nada o descreveria, nem sei o porque de meu olhar, o seu corpo magro com a gola protuberante não me deixavam parar de o observar. Grosseiro, bruto, ele não tinha me nada a acrescentar.

Mesmo assim, dentro de seu reino fez questão de esse apresentar, chegou sem melindros, nem meias palavras, pronto a me ganhar. Na hora acuada tentei disfarçar, sair sem nem o olhar. Fui tão grossa quanto ele, para que entendesse mesmo se todas as suas vontades seriam acatadas. Mas eu não o queria.

Permeada por risadas, que lhe geraram o apelido de “o brega da noite”. Ele não se cansava, a perseguição era atônica, nada a apartava. Corria em círculos, bela jornada em prol de nada. Ria dele, gargalhava com desdém não só pela roupa, mais pela atitude, a grosseria, o descaso, o maltrato. Menino entenda: ninguém aqui é seu súdito. Por isso remeta-se a sua presença a quem o aceita. E recolha-se a sua insignificância, seu reino é invisível e apenas não me cabe.