FOI LÁ, NAQUELA CAFETERIA EM PARIS...
Nathan estava tomando um capuccino numa aconchegante cafeteria em Montmartre. A brisa suave daquela tarde outonal, as folhas se desprendendo das árvores que margeavam o Rio Sena e o som da canção "La Vie en Rose" vindo de um apartamento nas proximidades, criavam um clima para gostosos devaneios e reflexões... E ele, poeta zen que era, estava captando cada um daqueles momentos de pura magia em Paris, transpondo-os mentalmente para românticas poesias...
A convergência de turistas do mundo todo fazia Paris efervescer naquela época do ano. Lindas e charmosas mulheres circulavam elegantemente pela calçada, exalando deliciosos aromas de perfumes; ora florais, ora amadeirados e ora cítricos... Mas o mais perturbador para Nathan era o cheiro natural que elas exalavam: o de fêmeas no cio...
-Hummm... Aquela loira de botas pretas é muito sedutora! Ihhh, aquela morena de boina vermelha, então, está irresistível com aqueles cabelos longos esvoaçantes! Aquela ruiva com os cabelos encaracolados, então, hummm... O andar daquela mulata esguia é simplesmente avassalador! Aquela oriental com olhar misterioso de gueixa... Afff! - pensava Nathan em seus inconfessáveis devaneios.
Estava absorto em seu voyeurismo quando, de repente, uma garçonete esbarra em sua mesa, fazendo a xícara virar e molhar sua calça com o capuccino derramado....
-Mil desculpas, senhor... Puxa como sou desastrada! - diz a mulher, preocupada com o que provocara.
-Não foi nada. Estava de saída mesmo pois estava aqui só me inspirando para compor meus textos literários... Não pretendo ir a nenhum lugar em especial. Volto para o meu hotel de taxi e troco de roupa... - responde Nathan com um sorriso amistoso, sem deixar de notar os charmosos brincos que ela usava, com formato de folha de acácia. -É um simbolo maçônico. Será que ela sabe? - pensa.
-Nem pensar! Eu errei e conserto! Meu nome é Fatira e dentro de alguns minutos encerro o meu turno de trabalho. Me aguarde aqui pois te levarei até o meu apartamento, naquele edifício ao lado. Lá eu poderei lavar e secar a sua calça, senhor... Senhor...
-Nathan... Meu nome é Nathan...
Fatira, a garçonete
Quinze minutos depois já estavam subindo pela escada de um prédio antigo com arquitetura da Belle Époque, que levaria ao apartamento de Fatira, no terceiro piso.
-Me passe a sua calça, Nathan... Eu vou colocar na máquina e dentro de alguns minutos ela estará limpinha... Depois eu seco no ferro de passar... - diz Fatira, com um doce sorriso, ao adentrar o apartamento.
Enquanto a máquina trabalhava, Fatira resolveu se banhar pois sua amiga Sinéque passaria no apartamento às 19 horas para, juntas, irem a um show de Elthon John. Enquanto escolhia as peças de roupa que comporiam seu visual daquela noite, Fatira foi se despindo ficando só de lingerie.
-As francesas são bem desinibidas... Ela não ficou nem um pouco constrangida em ficar semi-nua em minha presença. Hummm... Corpinho exuberante dentro de lingerie lilás... - pensou Nathan.
-Quer acompanhar a gente ao show do Elton John? - pergunta Fatira, já adentrando ao banheiro.
-Posso ir, sim... - responde Nathan. -Mas como eu poderia adquirir um ingresso?
-Não se preocupe pois ganhei um ingresso de um amigo que precisou viajar... Ah, pegue o meu roupão de banho aí na cama e me traga por favor...
Fatira estava se produzindo, quando a campainha toca.
-Oi, Sinéque, que bom te ver... Entre, entre... Ah, este é o meu amigo Nathan... Ele é escritor... Conheci-o há poucos... - diz Fatira, ao recepcionar sua amiga. -Ah, prepare um drink lá no barzinho para vocês, enquanto eu me maquio...
-Qual bebida você prefere, Nathan? - pergunta Sinéque, analisando curiosamente o biotipo oriental dele. -Um escritor calçando coturno militar? Mistura interessante... - pensa.
-Eu prefiro licor de marula... Tem?
-Hummm... Que coincidência... Esse licor à base de um fruto originário da África também é o meu predileto... - balbucia Sinéque, enquanto serve duas taças com a exótica bebida cremosa.
O licor africano, o aroma floral do incenso que Fatira acendera e a voz de Edith Piaf no CD-Player criaram um gostoso clima de relaxamento físico e espiritual que, durante quase duas horas, induz os três a uma intensa interação naquele aconchegante apartamento. A cidade-luz já estava toda iluminada quando eles, ainda entorpecidos, ganharam a rua para irem ao show musical. Nathan, com a língua e lábios ainda impregnados com a mistura extasiante de marula com fluídos femininos, caminhava abraçado às duas enquanto elas cantarolavam alegremente "Je t´aime", em dueto.
Fatira, Nathan e Sinéque rumando ao show
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Dedico este conto à todas as mulheres que sabem dar vazão
a seus devaneios, tranformando-os, deliciosamente,
em inesquecíveis realidades.