MINHA HISTÓRIA (capítulo XIV)
Meu pai continuava bebendo muito e contraiu hepatite tipo C. Necessitava de tratamento, mas, como continuava bebendo muita cachaça e não seguia as recomendações médicas acabou ficando magro e com a barriga grande.
Numa dessas bebedeiras (lá no barracão de reciclagem) ele caiu no sono em cima de uns papelões e na manhã seguinte alguém foi acordá-lo constatando, consternado, que ele estava morto. A polícia foi acionada, o corpo foi periciado e levado para o IML.
Precisavam de que alguém da família fosse reconhecer o corpo. Mas quem?
Amélia e Gérson não quiseram ir. A mãe não podia comparecer devido ao seu estado de saúde precário; Zé do Bode e Laércio eram fugitivos da justiça; eu e o outro irmão que trabalhava na favela éramos menores de idade. A incumbência ficou com Gorete e Ana (que estavam com medo de comparecer), porém, incentivada pelo presidente da cooperativa dos catadores de reciclagem, comprometeu-se a acompanhá-las.
Assim foi feito! Depois dos trâmites legais foi realizado o velório e, posteriormente, o sepultamento; custeado por Zé do Bode que não mediu gastos.
Gérson e Amélia saíam todos os dias de moto e só voltavam para a favela altas horas da noite. Ela, mesmo grávida, acompanhava o marido todos os dias na sua jornada que, na verdade, ninguém sabia, ao certo, o que eles faziam. Meu irmão, que trabalhava na favela como “avião” para os traficantes, também fora preso e mandado para a FEBEM.
Depois desta, a mãe foi novamente internada e quase veio a falecer. Coitada! Estava bem pior do que antes.
Ana, por sua vez, arrumou um namorado nas redondezas e que fora parceiro do nosso irmão Aroldo, que se encontrava, também, na FEBEM.
A situação não estava nada bem lá em casa. Ana recebia todos os dias o seu novo namorado que se chamava Jaime. Parecia que ele não gostava muito de mim. Eu ficava na minha. Ajudava nas tarefas de casa e depois ia para o curso de alfabetização.
(continua)