A princesa que usava Jeans
Nem sempre nossas verdades são bem vistas ou bem quistas, às vezes elas simplesmente não convidam os olhares que nos observam e nos fuzilam e dessa forma, criamos verdades no objetivo de agradá-los e assim, mais um conflito se faz presente, onde agradar a platéia em meio à mentira ou viver nossas verdades mesmo que sem aplausos.
No fundo, todos nós esperamos aplausos e reconhecimentos a cada momento de criação ou inspiração, seja no amor, nos negócios ou em qualquer lugar. Claro que o amor ganha um espaço maior em nossa vidas, até em nossos computadores é assim, onde em meio a dez HD’s, nove são em musicas românticas e filmes como “PS te amo” e “Uma casa no lago”. Em meio a uma peça romântica, viver um amor é sempre algo incrível, sempre visto o personagem e a cada cena intensa, me entrego totalmente, mas quando dou por mim, me vem um enorme vazio, onde em meio à frustração, desejo de alguma forma fazer da fantasia realidade. No palco da vida, confesso que quando o assunto é amor, eu sou uma mera amadora, não sei o que acontece, as falas não se encaixam, o enredo não agrada, os olhares não convencem e no final, o sapatinho de cristal parece não servir em mim. Costumo dizer que eu sou uma princesa a minha forma, onde o meu castelo é o meu quarto, meu anel de brilhante o meu diário, meu sapatinho de cristal é o meu tênis all star todo sujo e desenhado a caneta e o meu vestido branco e rosa, dá lugar as minhas melhores amigas calça jeans e blusinha básica. Os príncipes por aqui não são assim tão inspiradores, na verdade estão mais para ogros que nem ao menos sabem abrir a porta do carro para as suas “pegadas”, como eles costumam dizer, a educação passa longe e a única coisa que querem agradar é o próprio ego e se eu for esperar um beijo que me tire dessa realidade, o máximo que conseguirei, é um “boa noite cinderela”.
A minha frente, uma enorme cortina vermelha, que separa dois mundos distintos, onde num passo, minha verdade se molda a uma fantasia e o personagem se sobre-sai. A peça de hoje é “O Mágico de Oz, já vivi tantas vezes a Doroth, que às vezes em meio à realidade tenho uma grande vontade de sair distribuindo corações e cérebros por aí, pois parecem estar em falta.
A cortina então se abre e os olhares logo se focam em mim, muitos deles estão ali torcendo para que eu caia ou saia correndo, mas um olhar em si me chama mais atenção, na primeira fila da platéia, um homem careca e de óculos que por muitas vezes move a cabeça em um gesto de reprovação, sempre cochichando algo com uma garotinha ao teu lado, possivelmente sua filha e juntos sempre sorrindo com um ar de sarcasmo. Decidi então ignorá-lo e me focar na personagem, mas eu não conseguia me concentrar, às vezes me perco no caminho entre a vida e o palco, um impasse entre a realidade e a fantasia que se colidem e se embaralham, me fazendo às vezes por em xeque quem realmente eu sou, e se o que sou, é o que eu quero ser, ou o que querem que eu seja. De um lado os olhares que anseiam por verdades fantasiadas, do outro, minha própria verdade se revelando e exigindo ser reconhecida.
De repente eu parei em meio ao espetáculo, tirei o sapatinho e vesti as minhas verdades deixando de ser coadjuvante em meio a minha própria realidade. Saí do palco e os olhares então ficaram mais focados, quase que como toda a torcida brasileira se levantando para ver um pênalti ser batido por um jogador Argentino e rezando fielmente para que ele erre. Voltei e os olhos se espantaram ao ver que Doroth deixou de lado a maquiagem e os teus vestidos, dando lugar à calça jeans e ao tênis all star. Na peça então eu vivi as minhas próprias verdades e a princesa de jeans mostrou assim como na historia, que todos nós temos sim em nossas verdades, algo que mereça aplausos… Após o termino da peça, todos aplaudiram e então eu pisquei para aquele olhar do homem careca que me fuzilava, de repente o ego masculino se fez presente e ele corou… Que tolinho. O melhor foi ver sua filhinha dizer que queria um all star igual o meu.
(Homenagem a Izabelle)