Clarice e o Antigo

Clarice escrevia para entender. Ela precisava se expressar através das palavras. Ela sempre precisou pertencer, para se sentir viva. Eu escrevo com só uma finalidade, alivio. Aprendi com Clarice, a força das palavras, e a natureza quase empírica da criação. Mas principalmente, aprendi que não se pode começar a escrever uma história sem terminar a outra.

Mas só no ano passado, descobri que é preciso dizer adeus para finalizar uma história. Digo isso porque me ressinto até hoje com uma não-despedida. Por ele naquela época estar tão longe, e pela dor ter sido tão latente, que hoje, não sinto mais a falta que me custou tantas noites e tantos textos.

Era tarde, era abril, e chovia. (Nem sei, se realmente chovia - não me lembro mais com tantos detalhes como foi meu primeiro encontro com ele. A memória me trai o tempo todo. Belo Horizonte nesta época é quase cinza... Mas se tivesse que imaginar um cenário estaria chovendo...) Aquela chuva de presságio, que alagaria a cidade – avisando os dias que se sucederiam após o nosso término.

Não sei porque hoje, me lembrei de você. Deve ser pela nova separação que se apressa em acontecer, deve ser pela história que repete mais um final – deve ser porque ontem, depois de seus sucessivos e-mails resolvo te desbloquear do msn. Deve ser porque nesta época o ano passado, estava na sua casa, com um relacionamento com dia para terminar, assim como agora. Deve ser, porque finalmente te perdoei e segui minha vida. Que fugi dos fantasmas que por tanto tempo me assombravam, e que só nas noites mais escuras, me sopram no ouvido.

Era abril, e já faz um ano. Hoje eu me descubro ainda entre estados, entre decisões e partidas, mas sem a indecisão e a loucura que nos permeava. Sim, assumo, só amo pessoas loucas. Deve ter sido isso, me afundei na sua loucura como areia movediça, e agora livre, prefiro sentar nela e apenas observar o pôr do sol. Calma? Nunca, fugiria dos meus sentidos... Mas livre... Hoje - de não precisar mais de nós. E sim, respirando aliviada.