Menino de rua que cheirava bem

Eu conheci dona Yolanda já faz uns três anos.

Foi numa na festa de aniversário dela, fazia 65 anos.

Entrei de bico, fui ajudar a carregar um botijão de gás e me deixaram ficar.

Na época era menino de jogar bola.

Ficava na esquina da rua pedindo um dinheirinho no sinal.

Ela fica sentada ai , no caixa da mercearia, abria cedinho e ela mesma baixava a porta de aço.

Dormia em baixo de uma marquise, dava pra escutar o barulho da porta, as vezes ela me pedia ajuda.

Um dia de noite ela me chamou e mandou que cheirasse seu pescoço. Cheirei.

- Tá cheiroso?

- Tá com cheiro de talco.

- Gostou?

- Gostei. Falei.

- Então vá lá traz, que tem um banheiro e se banhe.

Fiz o que ela disse e fui embora.

No dia seguinte ela mandou me chamar perguntou quanto eu tinha conseguido.

Falei uns dez real.

Tirou uma nota de dez de uma bolsinha vermelha e botou na mesa.

Fiquei olhando pra nota.

Depois disso, ela mandava me chamar, eu cheira onde ela me mandava e ganhava os dez real.

Tinha vez que ela virava os olhinhos e falava umas coisas que eu não entendia, dai ganhava mais. Comprei um celular do regrinha, sujeito manso que andava montado numa moto velha ganhando celular das menininhas rica.

Andei sumido, fui com meu padrinho trabalhar numa mina de ferro, faz tempo que não sei dela.

A mina era fedorenta diferente dela, mas cê tá dizendo que ela morreu.