Entre bocas
Não que eu esconda a melancolia, na verdade esta ainda se mostra presente em muitos dos meus atos corriqueiros, por mais que eu não os busque, ela vira e mexe aparece. Acaba até me pegando de surpresa. Principalmente nas longas noites de samba, parece que de certa forma a Lapa guarda um certo perfume do passado que vira e mexe volta ao meu pensamento.
Sim, eu sei, pela prescrição médica vivi minha melancolia até que esta se estancasse, quase saciada. Não que tenha entendido a dor, ou seus motivos, apenas me recolhi, me silenciei. Neste tempo, criei um profundo respeito pelas minhas lágrimas mas, como diz Caetano, hoje em dia minha risada é ainda mais reverenciada.
E garanto os meus dias foram, quase em demasia, uma catarse do que poderia ter sido, e não foi. Tive pena de mim, raiva do mundo, fui de coitada a incompreendida no relance de segundos. Mas hoje, sinceramente, não quero mais lembrar da falta de generosidade do meu chefe, das decisões de algumas amigas que acabaram por me magoar, do humor atravessado de alguns fornecedores, nem da cabeça que dói há uma semana sem parar, cansei de remoer picuinhas – de alimentar pequenos desamores. Não que as coisas estejam as mil maravilhas, não que a vida ande fácil, mas hoje em dia tenho falado pelos cotovelos e digo sim ao riso farto, à capacidade de ser solar, e as noites com música.
Deve ser à sombra das marchinhas, das novas que dançam com naturalidade e sorriem da maneira mais sincera, por pouco nos conhecermos e termos os mesmos interesses. Elas fazem com que a noite venha, o samba anime. Ando acompanhada e bem. Até porque eu sei, que apenas quando eu sorrio com naturalidade que meu rosto ilumina, e ai tudo fica maravilhoso, nem que seja por alguns minutos e no meio da multidão. E finalmente está chegando mais um carnaval.