As lembranças do hospital

Naquele cubículo vazio eu chorava, as lágrimas escorriam rapidamente sem eu ter o poder, nem a força de escondê-las. A enfermeira, parecia nem me ver, ela apenas injetava mais um remédio no meu soro. E num relance de olhar comentou com uma colega "porque esta menina chora", como se eu nem estivesse lá, como se meu corpo fosse apenas mais um entre os outros tantos empilhados ao lado.

Eu a olho perplexa e choro mais, por não conseguir respondê-la, não sei se pelo efeito da morfina, da dor ou do vazio. Olho para o teto branco e seguro cada vez com mais força o meu telefone, como se por súbito segundo, ele fosse tocar e uma voz segura fosse me dizer que tudo ficaria bem... Eu o fitava, com a toda a intensidade que meu corpo fraco de 8 horas sem comer possuia. Com a esperança de que alguém sumisse com todo medo que sentia, eu tinha tanto medo, que estava paralizada, essa sensação durou eternos segundos, mais tenho certeza que irá me marcar pela vida inteira.

A eterna falta das singelas palavras, o frio do corpo nu dentro de um avental, da indisposição, esperando a ambulância... para enfim me abrirem num hospital de quinta categoria e tirarem a causa de tanta dor, sinceramente até hoje não sei se era realmente do meu apêndice, ou meu coração partido.

Não aguentando a espera, liguei, liguei, e ele não atendeu e novamente senti meu rosto molhado. Nesta hora eu me restringia a chorar até que as lágrimas acabassem ou que minha mãe chegasse, para me levar numa ambulância. Com o tempo, a calma vai chegando, e aquele frio local passa a se tornar familiar, afinal são mais de 10 horas sentada na mesma cadeira, esperando que algum médico que eu não conhecia decidice minha vida.

Aumentam a dose de sua morfina, então eu passeio e ambulância como se tivesse atada em uma limosine, chego e me levam direto para operação, e lá sonho... Acordo dolorida, no quarto com minha mãe segurando minha mãe, acabou, pensei. Estou viva... sorrio. E novamente fito o celular, não, me conformo que ele não ligou, que ele não ligará, que ele não me quer.... E durmo.

Acordo no dia seguinte, dolorida, me olho no espelho e nem me reconheço de tão abatida, e finalmente começo a compreender que mais que o medo do hospital, que a dor aguda, e que eu perdi o pouco controle que tinha dele. E neste exato segundo que me dou conta que finalmente nós haviamos acabado. Então novamente, deito para que a enfermeira me aplique mais uma dose de morfina e durmo....