Os Amigos se vão.
Estava saindo de um shopping, quando deparei com o Mariano, pessoa de minha estima, com quem trabalhei em uma empresa e ele ali um bem sucedido executivo, a quem não via há muito tempo e iniciamos um papo.
Mariano como diretor vivia, embora sem luxo, mas com fartura e alegremente, pois gosta de reunir amigos, papear, bons vinhos e queijos.
Perguntei ao doutor Mariano, como o chamávamos, como ia a vida, o trabalho, a família e ele respondeu que com a família ia tudo bem, mas a empresa e o trabalho iam mal, pois havia sofrido um penoso golpe e ido à falência.
E ele, por já estar já muito velho, quando inclusive fez a séria reclamação que neste país chamado Brasil, com 50 anos se é ‘velho’ e não se consegue emprego e estava passando por dificuldades, mas que naquele momento estava feliz, pois rira de si e consigo mesmo.
Curioso e surpreso com sua contraditória afirmação de estar em dificuldades e mesmo assim feliz e rindo de si e consigo, e com curiosidade perguntei como isto se dava ?
Ele, gostosamente ele enganchou-se em meu braço e disse: Brasa, como sempre me chamou, vamos sentar um pouco ali que lhe conto.
- Brasa, você se lembra dos momentos que passamos juntos, tomando bons vinhos, papos, gostosos queijos ?
-Claro que sim respondi e ainda afirmei, são momentos que estão em minha memória.
Então – disse-me ele: Agora não estou sendo o doutor Mariano, mas Marianinho, como me chamam os amigos ali do bairro.
Do bairro eu o interpelei !
Ele respondeu que sim, pois fora obrigado a vender a casa da Cidade Jardim, pois o condomínio e a manutenção muito caros e o momento que passava não lhe dava alternativa.
Continuou ele: Perdi cartão de crédito, cheque especial, conta bancária e ainda estava no SPC, justamente com aquele cartão americano que me puxava o saco quando eu era doutor Mariano e mantinha polpuda conta corrente em seu banco.
Lembrei-me de tudo isto e resolvi, mesmo nesta dificuldade, passar alguns momentos relembrando a boa fase de diretor de empresa e resolvi vir até este shopping fazer uma compra com o meu cartão, embora soubesse que ele está cancelado por falta de pagamento e inclusive por isto me negativado.
Mostrou-me o tal cartão e contou a história que o fazia rir de si e consigo e começou:
- Estava em casa meio desolado, pois meus filhos haviam saído e a mulher foi na casa da mãe, vesti uma esta boa calça e camisa de seda que trouxe da França e resolvi fazer uma compra de vinhos e queijos, lembrando os bons tempos de doutor Mariano, disse-me ele alegremente.
Fui andando e colocando garrafas de vinho no carinho que pomposamente eu empurrava, coloquei umas quarenta garrafas de vinho de boas marcas, referências e países, andava com o peito estufado como se tudo estivesse a mil maravilhas.
Não me fiz de rogado, continuou ele – fui para a seção de queijos, azeitonas, patês e frios e completei a carga do carrinho que estava gostosamente lotado e me lembrava os saudosos tempos de doutor Mariano.
Na caminhada observava que as pessoas achavam exagerada a ‘carga’ que transportava, mas eu estava altivo e seguro do que fazia, parecia que o mundo estava aos meus pés.
Segui para o caixa, coloquei tudo sobre o balcão do caixa, a moça simpaticamente me atendia e ainda procurou uma prosinha comigo dizendo que eu gostava mesmo de vinho, quando lhe respondi que eu mesmo bebia pouco, mas era para os amigos que eu reunia em casa na beira da piscina para bater um bom papo.
Ela ainda afirmou: que legal viver assim, com bons vinhos, queijos e rodeados de amigos, com o que concordei firmemente e com o olhar mais sereno que eu poderia ter.
Ele fez uma pausa e me falou:
- Brasa, que amigo que nada, a maioria não me visita mais e quando me veem na rua, se puder foge de mim, certamente de medo que eu peça algum favor ou empréstimo.
É triste, muito triste !
Completada a operação e ela me falou que havia dado R$ 874,00, então saquei o cartão da ‘capanga’ que portava só uma nota de cinco reais e o entreguei com toda segurança à gentil atendente do caixa.
Fiquei firme, muito firme e seguro do que estava fazendo e ainda me mostrei apressado, e disse a ela que estava um pouco atrasado e meus amigos certamente já estavam chegando à minha casa.
Continuou Mariano:
- Ela iniciou a operação, passou o cartão na maquininha e fez um sinal de preocupação, mas eu continuei firme. Ela um pouco preocupada e insegura passou novamente o cartão e eu, de rabo de olho, via que na tela aparecia a mensagem: ‘operação não pode ser realizada’; mas eu estava com a maior altivez que era possível a um ser humano, embora por dentro sabia que aquilo tudo era só uma encenação, pois o cartão estava cancelado há meses.
A atendente olhava para mim de baixo em cima, olhava no anel brilhante que estou usando, que hoje é bijuteria, mas estava muito insegura para me dar a noticia de que a compra não estava sendo autorizada, mas ela não teve coragem de me falar isto.
Ela pediu licença e que eu esperasse um pouquinho, pois o sistema estava dando problemas e ela iria falar com o supervisor e voltaria.
Brasa, minha altivez naquele momento era a reunião de todas as virtudes que eu tinha tido e teria em minha vida.
Impressionante minha segurança, pois lembrava os bons tempos do executivo doutor Mariano.
Passaram alguns segundo e a atendente acompanhada de um polido senhor que se apresentou a mim, pegou o cartão da mão da atendente e novamente o inseriu na maquininha, que mais uma vez respondeu: ‘operação não pode ser realizada’.
Então a atendente e o supervisor me chamam de lado e, com um constrangimento perceptível, me informam que o cartão estava com problemas e a compra não estava sendo autorizada.
Brasa, prosseguiu ele: Fiz a maior cara de surpresa e disse que iria ligar para o suporte da empresa do cartão para ver porque aquilo ocorria.
Afastei-me um pouco dos funcionários, saquei meu celular, fiz que liguei – só fiz, pois também estava cortado –, e voltei a eles com a mesma altivez e lhes disse:
- Informaram-me que o sistema do cartão americano está com problemas desde a tarde e que os técnicos estão se empenhando para o conserto, mas que ainda vai demorar duas horas.
Olhei bem para os atenciosos funcionários e lhes disse que não poderia esperar, pois meus amigos já haviam chegado casa – e mais uma mentirinha que não é pecado, mas que se for é só venial e não mortal -, pois minha esposa acabara de telefonar e que eles estavam prontinhos para um banho de piscina aquecida.
Pedi desculpas a eles pelos transtornos e eles constrangidamente me disseram:
- Doutor Mariano, nós é que pedimos desculpas pela embaraçosa situação, mas o senhor sabe (- como todos os brasileiros sabem, pois este é o país da indenização -) que pode promover uma ação de danos morais contra o seu cartão, pelo constrangimento que fez o senhor passar e, inclusive caso queira pode nos arrolar como testemunhas.
Pensei bem, agradeci a atenção que me deram, anotei seus nomes e lhes disse que iria pensar e que se resolvesse fazer a ação eu os procuraria, pois imaginava não compensar uma demanda judicial para receber R$ 20.000,00/30.000,000.
Arrematou-me Mariano:
- Brasa, sei que não foi certo o que fiz, mas não tive outro jeito de esvaziar minha ansiedade que não este, e agora estou indo para casa com a sensação de estar vivendo a vida de ‘doutor Mariano da Avenida Cidade Jardim’ e não o Marianinho do bairro e do boteco Copo Sujo que tenho frequentado.
Mas estou certo que vou virar esta mesa, acertar minha situação e voltar a viver uma vida de paz, tranquilidade, mas te digo uma coisa Brasa, vou continuar a viver com meus amigo do Copo Sujo, pois mais sinceros e leais.
Mariano me deu um forte e amistoso abraço e disse:
- Tchau Brasa, dê um abraço em seu pessoal e seja muito feliz.
Respondi-lhe no mesmo tom e com o mesmo gesto.
Mariano saiu andando com seus passos firmes, fui olhando para traz e vivi aqueles momentos de felicidade que Mariano vivera, que realmente foram poucos, mas felicidade, mesmo que por pouco tempo, é sempre felicidade.
(Seja você também feliz)
Estava saindo de um shopping, quando deparei com o Mariano, pessoa de minha estima, com quem trabalhei em uma empresa e ele ali um bem sucedido executivo, a quem não via há muito tempo e iniciamos um papo.
Mariano como diretor vivia, embora sem luxo, mas com fartura e alegremente, pois gosta de reunir amigos, papear, bons vinhos e queijos.
Perguntei ao doutor Mariano, como o chamávamos, como ia a vida, o trabalho, a família e ele respondeu que com a família ia tudo bem, mas a empresa e o trabalho iam mal, pois havia sofrido um penoso golpe e ido à falência.
E ele, por já estar já muito velho, quando inclusive fez a séria reclamação que neste país chamado Brasil, com 50 anos se é ‘velho’ e não se consegue emprego e estava passando por dificuldades, mas que naquele momento estava feliz, pois rira de si e consigo mesmo.
Curioso e surpreso com sua contraditória afirmação de estar em dificuldades e mesmo assim feliz e rindo de si e consigo, e com curiosidade perguntei como isto se dava ?
Ele, gostosamente ele enganchou-se em meu braço e disse: Brasa, como sempre me chamou, vamos sentar um pouco ali que lhe conto.
- Brasa, você se lembra dos momentos que passamos juntos, tomando bons vinhos, papos, gostosos queijos ?
-Claro que sim respondi e ainda afirmei, são momentos que estão em minha memória.
Então – disse-me ele: Agora não estou sendo o doutor Mariano, mas Marianinho, como me chamam os amigos ali do bairro.
Do bairro eu o interpelei !
Ele respondeu que sim, pois fora obrigado a vender a casa da Cidade Jardim, pois o condomínio e a manutenção muito caros e o momento que passava não lhe dava alternativa.
Continuou ele: Perdi cartão de crédito, cheque especial, conta bancária e ainda estava no SPC, justamente com aquele cartão americano que me puxava o saco quando eu era doutor Mariano e mantinha polpuda conta corrente em seu banco.
Lembrei-me de tudo isto e resolvi, mesmo nesta dificuldade, passar alguns momentos relembrando a boa fase de diretor de empresa e resolvi vir até este shopping fazer uma compra com o meu cartão, embora soubesse que ele está cancelado por falta de pagamento e inclusive por isto me negativado.
Mostrou-me o tal cartão e contou a história que o fazia rir de si e consigo e começou:
- Estava em casa meio desolado, pois meus filhos haviam saído e a mulher foi na casa da mãe, vesti uma esta boa calça e camisa de seda que trouxe da França e resolvi fazer uma compra de vinhos e queijos, lembrando os bons tempos de doutor Mariano, disse-me ele alegremente.
Fui andando e colocando garrafas de vinho no carinho que pomposamente eu empurrava, coloquei umas quarenta garrafas de vinho de boas marcas, referências e países, andava com o peito estufado como se tudo estivesse a mil maravilhas.
Não me fiz de rogado, continuou ele – fui para a seção de queijos, azeitonas, patês e frios e completei a carga do carrinho que estava gostosamente lotado e me lembrava os saudosos tempos de doutor Mariano.
Na caminhada observava que as pessoas achavam exagerada a ‘carga’ que transportava, mas eu estava altivo e seguro do que fazia, parecia que o mundo estava aos meus pés.
Segui para o caixa, coloquei tudo sobre o balcão do caixa, a moça simpaticamente me atendia e ainda procurou uma prosinha comigo dizendo que eu gostava mesmo de vinho, quando lhe respondi que eu mesmo bebia pouco, mas era para os amigos que eu reunia em casa na beira da piscina para bater um bom papo.
Ela ainda afirmou: que legal viver assim, com bons vinhos, queijos e rodeados de amigos, com o que concordei firmemente e com o olhar mais sereno que eu poderia ter.
Ele fez uma pausa e me falou:
- Brasa, que amigo que nada, a maioria não me visita mais e quando me veem na rua, se puder foge de mim, certamente de medo que eu peça algum favor ou empréstimo.
É triste, muito triste !
Completada a operação e ela me falou que havia dado R$ 874,00, então saquei o cartão da ‘capanga’ que portava só uma nota de cinco reais e o entreguei com toda segurança à gentil atendente do caixa.
Fiquei firme, muito firme e seguro do que estava fazendo e ainda me mostrei apressado, e disse a ela que estava um pouco atrasado e meus amigos certamente já estavam chegando à minha casa.
Continuou Mariano:
- Ela iniciou a operação, passou o cartão na maquininha e fez um sinal de preocupação, mas eu continuei firme. Ela um pouco preocupada e insegura passou novamente o cartão e eu, de rabo de olho, via que na tela aparecia a mensagem: ‘operação não pode ser realizada’; mas eu estava com a maior altivez que era possível a um ser humano, embora por dentro sabia que aquilo tudo era só uma encenação, pois o cartão estava cancelado há meses.
A atendente olhava para mim de baixo em cima, olhava no anel brilhante que estou usando, que hoje é bijuteria, mas estava muito insegura para me dar a noticia de que a compra não estava sendo autorizada, mas ela não teve coragem de me falar isto.
Ela pediu licença e que eu esperasse um pouquinho, pois o sistema estava dando problemas e ela iria falar com o supervisor e voltaria.
Brasa, minha altivez naquele momento era a reunião de todas as virtudes que eu tinha tido e teria em minha vida.
Impressionante minha segurança, pois lembrava os bons tempos do executivo doutor Mariano.
Passaram alguns segundo e a atendente acompanhada de um polido senhor que se apresentou a mim, pegou o cartão da mão da atendente e novamente o inseriu na maquininha, que mais uma vez respondeu: ‘operação não pode ser realizada’.
Então a atendente e o supervisor me chamam de lado e, com um constrangimento perceptível, me informam que o cartão estava com problemas e a compra não estava sendo autorizada.
Brasa, prosseguiu ele: Fiz a maior cara de surpresa e disse que iria ligar para o suporte da empresa do cartão para ver porque aquilo ocorria.
Afastei-me um pouco dos funcionários, saquei meu celular, fiz que liguei – só fiz, pois também estava cortado –, e voltei a eles com a mesma altivez e lhes disse:
- Informaram-me que o sistema do cartão americano está com problemas desde a tarde e que os técnicos estão se empenhando para o conserto, mas que ainda vai demorar duas horas.
Olhei bem para os atenciosos funcionários e lhes disse que não poderia esperar, pois meus amigos já haviam chegado casa – e mais uma mentirinha que não é pecado, mas que se for é só venial e não mortal -, pois minha esposa acabara de telefonar e que eles estavam prontinhos para um banho de piscina aquecida.
Pedi desculpas a eles pelos transtornos e eles constrangidamente me disseram:
- Doutor Mariano, nós é que pedimos desculpas pela embaraçosa situação, mas o senhor sabe (- como todos os brasileiros sabem, pois este é o país da indenização -) que pode promover uma ação de danos morais contra o seu cartão, pelo constrangimento que fez o senhor passar e, inclusive caso queira pode nos arrolar como testemunhas.
Pensei bem, agradeci a atenção que me deram, anotei seus nomes e lhes disse que iria pensar e que se resolvesse fazer a ação eu os procuraria, pois imaginava não compensar uma demanda judicial para receber R$ 20.000,00/30.000,000.
Arrematou-me Mariano:
- Brasa, sei que não foi certo o que fiz, mas não tive outro jeito de esvaziar minha ansiedade que não este, e agora estou indo para casa com a sensação de estar vivendo a vida de ‘doutor Mariano da Avenida Cidade Jardim’ e não o Marianinho do bairro e do boteco Copo Sujo que tenho frequentado.
Mas estou certo que vou virar esta mesa, acertar minha situação e voltar a viver uma vida de paz, tranquilidade, mas te digo uma coisa Brasa, vou continuar a viver com meus amigo do Copo Sujo, pois mais sinceros e leais.
Mariano me deu um forte e amistoso abraço e disse:
- Tchau Brasa, dê um abraço em seu pessoal e seja muito feliz.
Respondi-lhe no mesmo tom e com o mesmo gesto.
Mariano saiu andando com seus passos firmes, fui olhando para traz e vivi aqueles momentos de felicidade que Mariano vivera, que realmente foram poucos, mas felicidade, mesmo que por pouco tempo, é sempre felicidade.
(Seja você também feliz)