MINHA HISTÓRIA (capítulo X)
Só aí minha mãe tomou ciência da realidade dos fatos. Então ela fez o outro irmão deixar a "boca de fumo". Só que para isso acontecer ele teria que mudar para bem longe pois os traficantes não admitem isto com medo que estas mesmas pessoas "batam com a língua nos dentes".
Meu irmão não teve outra opção no momento e ficou com os traficantes para não por toda a família em risco. A mãe disse para todos em casa: precisamos mudar para outro local bem longe daqui. Meu irmão mais velho (aquele que tinha cometido um homicídio e fugiu para São Paulo) de nome José de Arimatéia (apelido "Zé do bode")
falou: não podemos mudar daqui pois trabalhamos aqui perto e os "caras" sabem.
Assim fomos ficando ali e aceitando todas os problemas da favela. O irmão que foi para a FEBEM recebia a visita da mãe. O nome dele era Laércio. Ele disse que apanhava muito lá dentro e estava cada vez mais revoltado(assim minha mãe reportava-nos depois das visitas).
Na FEBEM ele ganhou o apelido de "russo" por causa do cabelo.
Meu pai progredia no seu alcoolismo. Às vezes era trazido carregado por outros, até o dia em que o encarregado do CEASA mandou-o embora. Desempregado, sem ter outra atividade passou a pegar papelão na rua, aliás, o pouco dinheiro arrecadado era só para gastar com a cachaça.
A casa estava sendo mantida pelos que trabalhavam no CEASA mas eles continuavam bebendo e sempre arrumavam confusão. Numa dessas encrencas "Zé do bode" meteu a faca num camarada matando-o e acabou sendo preso.
Quando puxaram a ficha na delegacia acharam o primeiro homicídio por ele praticado
do qual era fugitivo.
Foi condenado e mandado para a penitenciária do Estado.
A mãe estava arrasada pois agora tinha dois filhos presos.
Minha irmã mais velha, Amélia, já com dezenove anos, arrumou um namorado, um cara aparentemente muito legal. Ele tinha uma moto e os dois sempre saíam juntos.
Com o passar do tempo, o temperamento da Amélia mudou muito. Já não obedecia mais a ninguém.
(continua)