O dom de "não entender"

Realmente, o compreender é muito evoluído. Eu realmente não entendo. Esforcei-me a tino, mais realmente no fundo do meu âmago, nas profundezas das minhas letras, eu conjuro: eu não entendo. Pelo menos uma notícia, uma satisfação, um oi, um adeus. Uma fumaça. (Se bem que a fumaça tem a cada dia mais invadido minha casa. Maços de cigarro somem em plenas conversas que permeiam o blasé da ausência.)

O que aconteceu, sente aqui e me conte. Foi o frio daquele dia de manhã de inverno que destruiu o que poderia ser? Ou não foi nada? E eu estou aqui, ridícula, apenas ludibriando o nada. E vamos combinar, poderia ser pela correria da vida e apenas você não teve tempo.

É sempre bom existir o dom de iludir, me irrito com novamente a minha inocência. Tão menina, tão criança, tão ingênua. Eu realmente acreditava em você, por isso eu não entendo. Antigos fantasmas ainda me rodeiam. E vamos combinar: o adeus foi dado da porta e não dito. Realmente o não entender é muito mais inquietante que qualquer término.