A Casa dos Sonhos

Meu olhar vagava lentamente enquanto andava e deparei com ela: branca, linda soberana e só, no meio de um campo cheio de flores. Senti-me inebriada com aquela visão espetacular e agressiva ao mesmo tempo.

Andei lentamente e a princípio fiz um esforço para ultrapassar com o olhar por sobre o muro de pedras que a cercava e que fazia divisória com a estrada. Do jardim brotavam múltiplos e coloridos pontos de lindas flores, graças à obra de algum jardineiro dedicado.

Pé ante pé atravessei uma pequena ponte por onde repousava pequeno lago. Andei por entre pequenos arbustos que cobriam de lilás, amarelo e rosa um dos lados da calçada que dava acesso à porta da frente, cujos lados possuíam duas imensas janelas de vidros quadriculados. O ar era mágico e misterioso. Era a casa dos meus sonhos, meu coração batia descompassado, num misto de alegria e medo...medo de que alguém me encontrasse ali, furtivamente olhando para aquela visão dos deuses. Como gostaria que aquela casa fosse minha.

Ouvi um barulho, olhei para o telhado e percebi pássaros brincando por sobre uma fenda. No andar de cima estavam, imponentes, três janelas. A do meio era menor que as outras e ficava em um andar mais elevado, lembrei de Rapunzel. Todas elas estavam vestidas de cortinas brancas, esvoaçantes, num dançar ao som dos ventos.

Num repente ouvi um som de piano vindo de dentro da casa. Tocavam baixinho e alguns acordes me lembrou Mozart. Quem tocaria tão envolvente som a esta hora da manhã? Seria uma menina, um rapaz ou uma criança superdotada? Ou seria uma fada deformada pelo tempo e pela solidão? E se fosse uma bruxa, dessas que envolvem com seus truques quem por ali passam? E se fosse um príncipe encantado, desses que povoam todos os bares e cujas estórias se modificam conforme o ouvinte?

Tomei coragem e me aproximei de uma das janelas que tinha a cortina um pouco afastada. Coloquei a mão em concha por sobre os olhos para evitar reflexos e tentando olhar ......o que se passava lá dentro.......como era seu interior......... e quem morava naquele paraíso.

Naquele exato momento minhas mãos tremulas bateram afoitas na moldura e uma réplica de Monet caiu estatelada aos meus pés...mas não antes que eu pudesse ver refletida,escorrregando no vidro, assustada...minha própria sombra ...

mirian schuck
Enviado por mirian schuck em 15/07/2010
Reeditado em 01/03/2012
Código do texto: T2378934