MINHA HISTÓRIA (capítulo IX)

Muito apertado mal coube as nossas bagagens. Minha mãe chorava muito, parecia adivinhar o que estava por vir naquela localidade.

A primeira noite foi terrível pois o barulho noturno era completamente diferente do qual estávamos acostumados. Além de pessoas falando alto havia muitos estampidos de armas de fogo. Era algo novo para todo mundo e ninguém conseguiu dormir.

Ao amanhecer meu pai e meus irmãos foram até o responsável por recrutar novos carregadores para o CEASA e ficou acertado de que começariam a trabalhar naquela mesma noite.

Todos foram avisados que não poderiam apresentar-se para o trabalho alcoolizados em hipótese nenhuma. Caso contrário se dariam muito mal. Foi aí que começou uma nova fase de nossas vidas. Tudo ali era diferente. Até as brincadeiras das crianças!

Na roça tínhamos muito espaço, ao passo que aqui não tinha nem lugar livre para correr.

Na favela tinha um movimento de pessoas que entravam e saíam e que nós não sabíamos o que era. Não demorou muito para que descobríssemos que era venda de tóxicos. Algo que nunca ouvimos falar. Só os mais velhos sabiam do que se tratava.

Após o primeiro mes, ficamos sabendo que os meus dois irmãos (um de quatorze e outro de quinze anos) começaram a trabalhar na boca de fumo como avião(pessoas

que levam a droga até o consumidor). Eles estavam fazendo isto escondido da minha mãe.

O dinheiro começou a aparecer em casa. Ao serem perguntados sobre a origem da "grana" diziam ser de trabalhos extras que faziam na comunidade. Com isto minha mãe comprou roupas novas para minhas irmãs e para nós que éramos menores. Mamãe não tinha noção exata do que os meus irmãos faziam dentro da favela até que certo dia entrou na comunidade um grande número de policiais.

Nesse dia, meu irmaõ de quinze anos foi preso e encaminhado para a FEBEM (casa de custódia para menores infratores.

(continua)

Di Assis
Enviado por Di Assis em 15/07/2010
Código do texto: T2378811
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