Era sábado
Era mulher feita, trazia na bagagem muitas histórias. Já havia se apaixonado algumas vezes, na verdade, contava e colecionava fragmentos de todas as suas paixões, como pequenos troféus de batalhas vividas, onde algumas vezes saiu ferida e até mesmo foi traída, mais se sentia vitoriosa de ao menos ter sentido o gosto de ter amor reciproco, aquele quase verdadeiro... Agora andava só... Mais por escolha do que pretendentes. Os homens, nessa fase de sua vida, serviam mais como passatempos do que companheiros, e mesmo que tivesse trocado diversos beijos, acionado desejos, ainda assim, andava só. Entre a lamuria e as alegrias da solidão. Entre o rompante de seus hormônios e um livro a mão. Entre as cartas de baralho, exercícios mágicos e noites de televisão. Entre impulsos, colecionava histórias, e em seus caprichos, carregava em seu peito o peso da desilusão.
Era sábado, daqueles bem comuns, praticamente pré-destinados, a mais uma noite em vão. Porém a necessidade por histórias, trocas, mudaram sua visão. Era preciso sair de casa, pisar forte no chão. Gritar o fato de estar viva, testar sua sedução. Para que ela vivesse mais uma história, mais uma noite, revivesse novamente as batidas de seu coração.
Ele já era conhecido, e por isso ela já sabia como jogar. Porque para ela, tudo não passava de um jogo, um terreno conhecido, uma partida ganha. Seria apenas uma questão de tempo. De tic-tacs do relógio, para ele tomar alguma iniciativa. E ela, naquela faceta quase angelical, de quem nada entende, se levaria pelos rompantes dele. E o faria chegar manso, como se estivesse no comando, mesmo no meio de tantos outros, naquela noite ele se faria seu dono. E ela dançava despretensiosa, no meio daquela boate, esperando o minuto que tudo ia acontecer. Ele chega perto, a puxa pela cintura e no embalo de músicas conhecidas, a beija. Como se naquele momento, pudesse salvá-la, como se aquele gesto único pudesse modificá-la. Era um ápice, uma fuga, ela beijava ele e ele beijava ela, dançavam até o corpo não mais agüentar, e na beira da praia conseguiram finalmente conversar, e naquele minuto, a mágica quebrou, ela viu, que o jogo acabou. Sobre amores antigos conversou, mais já era dia, o sol já esquentou, mais uma vez em casa, sozinha, de solidão reclamou. Aninhando-se a seu lado se fez em comunhão, a bagagem já antes carregada, e ela já acostumada, adormeceu. Mais uma noite em vão, reclamou a solidão.