MUDANÇA DE HÁBITO
Já vai longe o início da semana... Aquelas horas desconfortáveis fizeram com que se sentisse em meio a uma perda de tempo infindável. Porém, era-lhe necessário o repouso. Estava cética quanto a sua eficácia e ao se recompor viu que o mal-estar permanecia. Nenhuma vontade havia: comer, trabalhar, exercitar... Nada! A tão esperada aula, depois de quase um mês de inatividade... Nada! Não queria fazer nada, permitia-se apenas algumas poucas e mecanizadas leituras, pra não dizer que ficou totalmente ociosa.
Não tinha idéia da força interior homérica que precisaria para superar os últimos acontecimentos... Importava-lhe quase nada os recados-trotes, que andara recebendo... Passar pelo que passou trouxe-lhe mais atenção quanto a acreditar, ou não, no que ouvia e lia. Seu critério para classificar o que realmente importa ficou rigorosíssimo e ainda não havia surgido algo que o superasse. Não seriam aquelas mensagens a poluir sua já tão confusa razão. Sua confiança nas pessoas esvaía-se e não via meios de trazê-la de volta, nem concertar o rombo pelo qual perdia tamanha preciosidade... "Num mundo tão desesperançado, que lástima eu esteja perdendo justamente minha fé"!
Poucos pensamentos conseguia formular... Parecia viver através de uma espécie de "piloto-automático". Sentia-se como a própria folha ao vento numa tarde cinza e fria de outono... Não se achava mais como nas paisagens de Los Angeles, quando cantava o sonho da Califórnia... Não sabia mais o que seria passear na praça, caminhar nas trilhas do bosque, atravessar o rio, mergulhar o mar e observar o céu... Mal se recordava de onde poderia encontrar aquele contraste tão admirado de verde da mata com azul do céu. Sabia, sim, o endereço. Só não sabia onde haveria alguma motivação que pudesse levar ou trazer as cores de volta. Na memória ele não mais estava; no coração não mais cabia.
As muralhas construídas eram tão grandes e largas, espessas e altas, com fundamentos tão profundos que o espaço livre restado era mesmo só isso: um resto de área onde mal conseguia acomodar apropriadamente uns poucos amigos com os quais ainda se prestava a encontrar e conversar – coisa feita muito raramente.
Aos demais, tentava ainda reservar alguma lembrança, algum lugar de memória... Reconhecia as suas qualidades e da amizade que expressavam... Só não sabia como fazer para retomar o lado humano dos relacionamentos. Tudo tornara-se infinitamente mecânico, programável, tal qual a facilidade de se deletar arquivos num computador...