Pequenos enganos
Esta história é baseada em fatos reais. Qualquer semelhança é possível acontecer naturalmente a qualquer um de nós. Quem nunca foi confundido com alguém? A pergunta é simples, e talvez, a maioria das pessoas venha a responder que, pelo menos uma vez, isto já chegou a acontecer. Só que quando somos confundidos com outra pessoa, duas ou três vezes no mesmo dia, torna-se hilariante ou dependendo da situação aborrecedora.
O nome do personagem é meramente fictício, não havendo necessidade de divulgação, por isso procurei preserva-lo, para que no futuro não muito próximo venha a ser confundido novamente. Mas para que possamos identificá-lo chamarei o, apenas, de Confúcio.
Pessoa comum, simples, com seus quarenta anos, representante de vendas, sem destaques aparentemente marcantes que o diferencie das demais. Sua personalidade se caracteriza pelas amizades que tem. Aonde Confúcio chega, logo encontra um conhecido. Qualidade esta que deveria ser cultivada por todos nós, a multiplicação da amizade, mas não é o caso para aqui ser discutido.
Confúcio estava no terminal de ônibus urbano, sexta-feira, aguardando o coletivo para assistir a partida de futebol entre XV de Piracicaba e Santos, amistoso programado para este final de semana. Quando uma senhora lhe abordou. - O senhor não vai mais entregar as marmitas?
- Mas que marmita minha senhora! Respondeu Confúcio.
- Nós estamos esperando o senhor entregar as marmitas, insistia. O senhor desapareceu, não falou nada. Todos nós gostamos da sua comida e o pessoal está sentido falta.
- Acho que está havendo algum engano, minha senhora, eu não sou entregador de marmitas, respondeu Confúcio.
Ela não lhe deu ouvidos, parecia não estar disposta a escutar o que Confúcio dizia, e tornou a falar: “Quando o senhor irá levar novamente as marmitas?”.
Confúcio, um tanto irritado, respondeu: “não irei mais entregar as marmitas minha senhora”, e subiu no ônibus que acabara de chegar, ouvindo as palavras ecoando lá de fora: “o senhor não pode parar de entregar as marmitas, não pode fazer isso com a gente”.
Sentou chateado, um tanto aborrecido com o que ocorrera. Confundi-lo com entregador de marmita?! Nada contra a profissão, mas a senhora estava tão convicta de que ele era o entregador, que nem sequer ouviu suas palavras. Quando um senhor que estava sentado ao seu lado lhe disse: - É, agora o casamento é com comunhão de bens, meio a meio, com os gestos da mão, uma sobre a outra, indicando a metade, cada um pega sua parte, Confúcio pensou: “que tenho eu a ver com isso?”. Não bastasse o entregador de marmita, agora me vem esta pessoa com problemas conjugais.
Confúcio percebeu que o senhor tinha bebido alguns goles, e tolerou, mas ele tornou a repetir a frase. Definitivamente hoje não é o meu dia, concluiu Confúcio, esperando uma oportunidade para se levantar, achou indelicado deixa-lo falando sozinho, até que surgiu a chance. - A senhora é professora, não é? Está muito bem vestida. Professora é que se veste elegante assim. - O que é isto! Minha roupa é tão simples. Confúcio agradeceu aos céus, se levantou, e deixou os dois conversando.
Finalmente chegou ao Estádio. Hora de entrar e assistir ao jogo. Fila enorme. Confúcio com sua carteira na mão, impaciente, conversa com um, conversa com outro, tentar furar o bloqueio, ninguém gosta de ficar esperando, procura um conhecido aqui outro ali, apresenta a carteira e ouve, “Aposentado é naquela outra fila”. Não se importou, não deu à mínima, o interessante era entrar, relaxar e curtir a partida.
Infelizmente, o jogo terminou em empate. Resolveu voltar caminhando até sua casa, respirar e pensar. Então escuta: “Desculpe-me senhor! O senhor trabalha na casa de calçados tal..., não trabalha?”.
Calmamente, Confúcio respondeu: Sim, trabalho na casa de calçados tal... E, como bico, entrego marmitas na hora do almoço, auxilio em um escritório de advocacia, à noite, que trata de casos conjugais. Nos finais de semana, quando consigo, pego a fila dos aposentados para assistir a uma partida de futebol.