PREMEDITADO

— Se você bocejar mais uma vez eu juro que te meto uma bala!

— Mas pra que tanta revolta! O filme é chato pra caramba, não sei por que insistiu pra que viéssemos assistir.

— Vai embora, então!

— E te deixar sozinha num cinema escuro? Sou otário, mas nem tanto!

— Então pare de bocejar!

— Tô cansado!

— Você nunca leva a sério as minhas ameaças, não é!?

— Ah tá, quer dizer que se eu bocejar mais uma vez eu vou levar uma bala na cabeça?

— Você duvida?

— Duvido!

Ela começou a procurar dentro da bolsa. O rapaz pensava que ela estava de brincadeiras, mas não deixou de perceber a mudança nas suas expressões.

Ela estava confiante.

No escuro da sala de projeções, ele não conseguia ver o que a namorada portava, o que havia tirado de dentro da bolsa.

Na certa, alguma amiga havia contado que ele fora à festa naquele sábado em que disse estar com sono. E se não bastasse ter mentido, fora capaz de beijar outra menina. Mas tudo era porque estava bêbado, porque os amigos insistiram pra que bebesse e fosse à festa. Agora fora ameaçado de morte.

Sabia que podia esperar tudo de uma mulher traída. Quantas vezes já não lera que as mulheres tem mais sangue frio, que premeditam seus crimes pra não deixar rastros. E se fosse o caso?

Pensou em sair correndo, mas não ia adiantar. Ela já havia tirado a arma da bolsa e se estivesse realmente decidida em atirar, não pensaria duas vezes para desferir os disparos pelas suas costas.

— Eu não fiz nada! Não tive culpa! Bebi por que o Alberto insistiu. Não me mate!

— Como é?

— É, não foi culpa minha! A menina apareceu do nada, estava mais bêbada que eu e me tascou um beijo.

— Como é que é? Seu filho-da-puta. Você beijou outra menina?

— Não é por isso que você vai me matar?

— Agora vai ser por isso! Mas como você pôde?

— Eu já disse: não foi culpa minha!

— E você quer que eu acredite? Homem é tudo igual! Não valem um centavo!

— Não fique brava, não me mate!

— Eu o quê? Você é muito burro! Acha que eu ia te matar? Acha que desgraçaria minha vida por um homem?

— Não quero te ver nunca mais!

A menina correu chorando enquanto o namorado ficava sem entender o ocorrido.

— Mas ela não ia me matar?

Ele olhou para a poltrona vazia ao seu lado. A namorada se esquecera da bolsa, várias coisas espalhadas inclusive algumas balas de menta.

Um gosto amargo na boca.

Fabiano Rodrigues
Enviado por Fabiano Rodrigues em 08/07/2010
Reeditado em 08/07/2010
Código do texto: T2366014
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