Algumas Coisas Que Assustam os Homens - Parte 2

Mulher Mercenária.

Tínhamos inúmeras afinidades e uma visão distorcida de mundo bem parecida. Juntos, éramos nós mesmos. Eu podia fazer uma piada idiota que ninguém entende, mas ela entendia e dava risada e fazia o mesmo, contava piadas idiotas onde só eu dava risada. Nosso beijo encaixava certinho e ela tinha um corpo que não era lá muito avantajado – de acordo com os padrões toscos da mídia – mas que me deixava louco. Usava um shampoo que o cheiro era o verdadeiro inferno na terra. No bom sentido, pois bastava inalar aquele aroma para eu sentir turgescências nos países baixos. Só que ela tinha uma falha. Todos nós temos. Ela ganhava mais do que eu e pagava pouquíssimas contas do lar. Morava com a mãe – que ganhava bem pra cacete – que se encarregava de tal tarefa para que a filha pudesse comprar dúzias de sapatos, dúzias de cremes e dúzias de perfumes. E ela comprava mesmo. Andava de Nike, com calça da TNG e blusinhas da Cavalera. Na primeira vez que saímos para comer eu paguei a conta. Eu gosto de dividir, tudo. Pagar uma vez ou outra não dá nada. Aí comemos num restaurante árabe e depois fomos tomar um sorvete. Eu também paguei o sorvete. No outro dia entramos num mercado pra comprar alguma coisa pra comer. Ela escolheu aqueles batatas de pote que são caras pra cacete e uma barra de chocolate e coca-cola pra beber. Bom, no caixa, enquanto eu falava o meu CPF pra moça lançar na Nota Fiscal Paulista ela ensacolava a barra de chocolate. Enquanto eu digitava a senha do meu cartão, ela abria o pote de batatas e a garrafa de refrigerante e ficava olhando com cara de paisagem pra mim. E enquanto rasgava a embalagem da barra de chocolate, perguntou quanto tinha dado tudo. E foi assim no restaurante mexicano, no quiosque de açaí, no bar, na padaria, na temakeria. Aí então eu consultei a minha conta bancária e vi que ela estava negativa. Eu desolado com um extrato vermelho no bolso indo encontrar com ela que apareceu com um DC que custava a metade do meu salário. Íamos sair pra comer e eu escolhi ir no Outback. Pedi tudo quanto era coisa cara, tomei vinho, cerveja, comi sobremesa, quebrei copos e fiz escândalo. A conta tinha dado uns R$400,00. Pedimos a conta e quando ela (a conta) chegou a mocinha, minha namoradinha, foi ao banheiro. O velho truque. Bom, então eu levantei, peguei minhas coisas e fui embora. Meia hora depois ela me liga no celular puta da vida porque teve que pagar a conta. Me chamou de veado, covarde, filho da puta e mercenário. Desliguei na cara dela e nunca mais nos falamos. Demorei dois meses pra conseguir deixar a conta positiva novamente.

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 07/07/2010
Código do texto: T2364667
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