Algumas Coisas Que Assustam os Homens - Parte 1

Ela era uma mulher maravilhosa. Negra linda de olhos repuxados e lábios grossíssimos. Um quadril gigante de tirar o fôlego e uma cinturinha finíssima. Era inteligente, compreensiva. Fazia questão de sempre olhar nos olhos e interromper minhas narrativas com uma pergunta bem feita ou com uma observação interessante de forma que era possível viajar de ônibus com ela do Oiapoque ao Chuí sem se entediar, já que suas histórias eram divertidas e espirituosas e me agradavam bastante. Ela fazia questão de ressaltar que eu era lindo e tinha ombros de nadador, que eu fazia aquele tipo de homem irresistível, difícil de não se apaixonar, que meu sorriso era o mais branco que ela já tinha visto na vida. Ficou chateada quando falei que não era muito fã de crianças. Perguntou duzentas vezes quais eram as minhas intenções com ela. Falava todas as coisas exaltando o meu ego e queria que eu fizesse o mesmo. Eu exaltaria o ego dela, retribuiria a exaltação elevada à oitava potência; diria exatamente quais eram as minhas intenções com ela, falaria que adorava crianças. Sim, faria tudo isso. Só não o fiz porque só estávamos juntos há apenas três horas e eu creio que é muito pouco tempo para pedir alguém em casamento, ficar elogiando a pessoa desesperadamente e mudar a minha opinião sobre as crianças só porque ela tinha uma filha. Pediu para que eu lhe pagasse umas cervejas também. Bom, todo o encanto da negra intangível foi quebrado com essas declarações efusivas e sem cognição suficiente para servir de alicerce para elas. Falo da parte que no dia anterior ela tinha terminado o namoro? A Cinderela tinha que voltar pra casa. Nunca liguei pra ela. Depois de uns dois meses mandei uma mensagem e ela ligou pra mim logo em seguida. A cobrar. Ah, vai pro inferno, né?

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 06/07/2010
Reeditado em 09/11/2010
Código do texto: T2362597
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