Uma Sombra Perfumada de Mulher


Era um quarto fechado pelas mãos de um homem ciumento...

Ela estava nua, caída entre a cama e a porta, tentando se cobrir com os lençóis rasgados durante a madrugada. Limpava o sangue que escorria do canto dos seus lábios e as lágrimas que se misturavam com sua respiração.

Ainda conseguia lembrar do quanto se entregou para aquele homem, como um objeto de uso do seu prazer dominador. (Toda vez, ele amarrava as mãos da sua amada na cabeceira da cama, para sentir ainda mais desejo por ela).

Diante de uma janela com grades de ferro, ela olhava o infinito de um horizonte distante de suas mãos. Sua sombra no chão perfumava o quarto com seu cheiro mais íntimo, enquanto o Sol penetrava na sua pele delicada, marcada por manchas roxas deixadas ali, no seu pescoço frágil.
Seus olhos ansiavam apenas por liberdade e, buscavam naquela paisagem, um vôo solitário de uma ave qualquer, que tivesse asas para ir onde quisesse ir. Para terras distantes dali, daquele quarto escuro e solitário. Imaginava-se correndo pela praia, pelos campos verdejantes colhendo flores silvestres, observando cada detalhe que pudesse ver, respirando a liberdade de cada amanhecer.

Ela era uma mulher que, apesar de tudo, ainda conseguia sonhar e ter esperanças de dias melhores para si.

E o tempo passou...

As águas dos rios fluíram e correram para os oceanos através das correntezas, as chamas queimaram, mas um dia, apagaram-se e viraram fumaça, o ar não encontrou mais a respiração e o corpo foi jogado num buraco, a sete palmos do chão, coberto pela terra...e, o metal que uniu, foi desfeito pela morte. Seu homem se foi...

Hoje, ela está voando por vários lugares, perfumando com sua sombra, a liberdade desejada por todas as mulheres.

Voe! Voe Mulher! Voe para além da linha do seu horizonte!