BASEADO EM FATOS REAIS

BASEADO EM FATOS REAIS

Quando o Claudionor empurrou a porta do elevador bruscamente, acertou o dedão do pé esquerdo do anão, que por ser muito baixo, não dava para ser visto pela janelinha. O baixinho saiu pulando numa perna só, apertando o dedão atingido com ambas as mãos e fazendo piruetas no hall do edifício, enquanto xingava uma série de impropérios. Foram tantos palavrões, que eu suponho tenha inventado alguns, porque o seu repertório não fora suficiente para aliviar a dor que o afligia (santo remédio o palavrão, mas tem que ser dito de maneira clara e com entonação). Justamente quando ele passou pela porta de entrada vinha chegando uma velhinha e quando viu aquela coisa miúda e escurinha pulando num pé só e gritando impropérios, falou em voz alta enquanto fazia o sinal da cruz: “Cruz credo! Valha-me Deus que é o Saci!”

Ieda, recém-divorciada, beirando os trinta anos, era uma das mais cobiçadas do bairro, tinha o corpo perfeito e malhado de academia. Trabalhava numa joalheria num shopping da zona sul. Quando ela ia dar o trato no corpo, com a vestimenta apropriada para mostrar a escultura e os cabelos amarrados formando um rabo de cavalo, entortava o pescoço de qualquer um, tanto de quem era homem quanto de quem não era, dos homens pela cobiça, dos demais por inveja. Dizem que ela andou comentando no salão de beleza, enquanto fazia as unhas com a manicure, que o casamento acabou porque ela era muito fogosa na cama, enquanto o Reinaldo não dava muito valor a isso, quer dizer, não sabia tratar uma mulher como deveria. “O coitado não teve muita experiência no “metier”, acho que a primeira periquita que ele viu foi a minha, é por isso que ele sofria de ejaculação precoce, quando eu estava no início ele já tinha terminado e eu ficava não mão, literalmente, porque nem isso ele sabia fazer. Se arrependimento matasse eu estava enterrada há muito tempo. Esse foi o maior motivo para eu tê-lo deixado. Também, porque ele só pensava no trabalho lá no banco onde era gerente, cuidar da mulher nada. Dizia que estava cansado à noite e pela manhã sempre atrasado, no fim, quem ficava no atraso era eu. Pior que o cara ainda se achava no direito de ter ciúmes de mim, se eu chegasse um pouquinho mais tarde do trabalho era batata. Ele ia conferir dizendo que estava com tesão, pior que essa palavra nunca se encaixou direito no vocabulário dele e se eu recusasse ele quase me estuprava. Até o dia em que eu falei que estava menstruada e ele disse que eu tinha que deixá-lo entrar pela porta dos fundos, nem isso ele sabe dizer ou conquistar. Foi o fim da linha, disse pra ele sair pela porta a fora e voltar pra casa da mamãe, de onde, aliás, eu não deveria tê-lo tirado.

Esses homens acham que mulher é propriedade deles, essa época já passou há muito tempo. Quando é que eles vão entender que casamento é compartilhamento, dar e receber. É por isso que eles estão ficando para trás, estão sendo ultrapassados pelas mulheres. Eu não sei onde é que eu estava com a cabeça quando me casei com aquele traste. Ele conseguiu me enganar direitinho, não era nada daquilo que aparentava, é a falsidade em pessoa. Mas a maior culpada fui eu mesma, estava doida pra sair da casa da minha mãe e ela também queria se livrar de mim pra botar o namorado lá no apartamento, então eu embarquei naquela furada. Eu ainda resisti durante dois anos, ainda bem que ele me deu motivo pra me libertar definitivamente daquela enrascada em que eu me meti. Agora, pra eu me amarrar em alguém, o interessado vai ter que passar pelo teste da cama antes.”

Ela estava indo bem cedo para a academia pela manhã, e de lá iria direto para o trabalho, quando reparou num ajuntamento na esquina da padaria. Estavam lendo um papel que estava colado num poste.

- O que aconteceu? - ela perguntou aproximando-se.

- O Adonias morreu. – alguém respondeu.

- Adonias? Que Adonias?

- Um senhor que vivia aqui na padaria tomando cerveja, era fiscal de rendas aposentado. – falou o balconista da padaria. Aliás, - continuou - deve ter deixado a Patrícia, atual mulher dele, numa “m” que faz gosto. Não era casada com ele, a esposa verdadeira saiu de casa com os filhos há muito tempo, não agüentou as suas safadezas. Dizem que nem queriam saber dele, eu só sei que quando ele passava da conta na bebida ficava choramingando com saudade dos filhos, uns ingratos, que, segundo ele, enquanto embriagado, não entendiam a sua necessidade, por natureza, de ter mais de uma mulher, porque uma só não dava conta, além do mais, a esposa fazia sexo por obrigação, depois do último filho ela perdeu o interesse sexual. Fora isso, era um cara legal, falava com todo mundo, brincava com as crianças, se vestia de Papai Noel pra distribuir presentes para os pobres, fazia festa com os cachorros...

- Ah! Agora eu sei quem é.

“O safado uma vez apalpou a minha bunda e me pediu desculpas, disse que não resistiu e que eu era culpada por ser muito sedutora. Perguntou se eu queria ter uma vida de madame com ele.” – ela pensou.

O corpo foi enterrado no Caju. A vizinhança estava toda no velório e a viúva, não oficial, estava inconsolável, chorava muito com a mulherada toda em volta. Uma delas lhe prometeu falar com o marido, que era advogado, para ver se ela teria algum direito e se ele poderia fazer alguma coisa para ajudá-la. A outra não apareceu, tampouco os filhos. Estavam lá os vizinhos, sempre tem vizinho em enterro, (às vezes vale mais a vizinhança do que a família) e alguns parentes da inconsolável amásia.

Como de praxe, a conversa, até para passar o tempo, tinha como assunto principal o próprio defunto. Na hora da despedida, a maioria fala bem, principalmente para não ficar mal na rodinha, defunto vira santo e só se conta passagens que lembrem o altruísmo e a alegria de viver do finado.

Na hora do enterro, o caixão já havia descido após a oração e quando as pessoas se aproximaram da cova para atirarem, conforme o ritual, punhados de terra e flores, ouviram gritos de dentro do buraco: “Me tirem daqui, socorro. Eu quero sair”.

O primeiro a correr foi o coveiro, depois ele disse que tinha um medo terrível de alma penada, só iria ficar trabalhando ali até encontrar outro emprego, mas nunca ficava sozinho. Tinha gente passando por cima das covas, enganchando os pés nas coroas e pisoteando as flores que enfeitavam as covas, um corre-corre terrível, só ficou a mãe do anão, na verdade ela também tinha corrido a metade do caminho quando deu falta dele e percebeu quem estava pedindo socorro, voltou e debruçou-se na borda do buraco tentando tirar o filho que tinha caído lá dentro enquanto as pessoas rezavam de olhos fechados.

“Ajudem aqui! Foi o meu filho anão que caiu na cova” – ela gritava pedindo aos outros que voltassem.

Quando conseguiram tirá-lo, quem correu foi ele. Só parou na porta do cemitério. Pediu ao pipoqueiro um pouco de água com açúcar e ficou sentado num banco do lado de fora, com as perninhas balançando, esperando pela mãe.

Passado o susto e terminada a confusão, enterrarem o Adonias, os companheiros de copo foram para a padaria e continuaram os comentários sobre ele. A Ieda entrou, comprou pão para o café da tarde e os homens pararam de falar para poderem observar melhor. Depois de acompanhá-la com os olhos até ela dobrar a esquina, pediram outra rodada e alguém comentou: “Se ele estivesse aqui garanto que ela iria ouvir mais uma cantada. Coitado, insistiu tanto, mas acabou morrendo sem sentir o gostinho da sua deusa.”

Claudionor estava desempregado e vivia à custa da pensão de sua mãe, dona Carlota, que estava muito doente, problemas cardíacos. Durante a madrugada, ele tinha sonhado com uma sequência numérica ditada para ele, no sonho, por um camarada que tinha ganhado na loteria pelo menos umas três vezes. Não precisou anotar os números, eles ficaram gravados na sua memória. Coincidentemente, eram os mesmos números do telefone que a nova caixa da farmácia tinha dado para ele na noite anterior quando foi comprar camisinha com o propósito de aproximar-se dela, anotando no verso da notinha. Tinha muitas delas em casa, porque estava dando azar com mulher e não tinha como usá-las, a maioria já deveria ter perdido a validade.

Aquele era o dia de sorte dele porque a garota lhe deu espontaneamente o número do telefone e nem fingiu que não queria dar. Ele não acreditou, os números do sonho eram os mesmos do telefone dela. Não era outra coisa senão a chave para atravessar a porta da penúria em direção à fartura.

Saiu de casa assoviando, feliz da vida, sentindo-se milionário por antecipação. Iria jogar na loteria com o dinheiro que a mãe tinha lhe dado para comprar o remédio dela, depois era só esperar o resultado e ele poderia pagar tratamento para ela nos melhores hospitais.

Quando ia entrando na casa lotérica da esquina, saiu lá de dentro um anão correndo igual a um louco e xingando Deus e o mundo. Ele levou um susto tão grande que esqueceu imediatamente todos os números.

Ficou na porta da loja, pacientemente, esperando se acalmar, lembrar dos números e anotar no volante, mas não adiantou. Depois, sentou-se num banco da praça para ver se distraia, fumou um maço de cigarros inteiro e já estava com a boca amarga e meio enjoado, mas também não conseguiu resultado. Também, pudera! Com aquele camarada chato sentado no banco em frente! Ele implicava com todos que passavam: assoviava “fiu-fiu” para as mulheres, fingia que espirrava bem alto para assustar velhinhas distraídas e, por incrível que pareça, quando passou um casal de cegos tateando com as bengalas ele falou: “Quando será que vão por a tampa nesse bueiro?” Os ceguinhos estancaram de repente com medo e perguntaram: “Onde está o bueiro moço?” “Não se preocupem” – ele disse –“está aqui no jornal, um bueiro sem tampa há vários dias, podem seguir sossegados.”

“Cretino!” – O Claudionor pensou.

Se tivesse guardado a notinha que a garota da farmácia lhe deu estaria resolvido, mas confiante na memória, jogou o papel fora. Deu uma tapa na testa. “Como eu não me lembrei disso antes!” – falou com seus botões.

Passou na padaria, comprou três balas de menta e pôs todas na boca pra tirar o bafo, “Vai que ela não gosta de fumante!” - pensou –“É só pedir o número do telefone dela de novo e pronto.” Mas por ironia do destino a moça não tinha ido trabalhar naquele dia, o gerente disse que ela não estava sentindo-se bem e tinha ido ao médico.

“E agora o que eu faço?”– estava ficando desesperado. – “Se eu pego aquele anão não sei do que sou capaz de tanta raiva que eu estou.”

Foi depressa para casa com a intenção de dormir, na esperança de que o sonho se repetisse. Engoliu os dois últimos comprimidos da mãe dele, porque naquela hora estava totalmente desperto e muito agitado, fechou a porta, a janela e a cortina do quarto, encheu os ouvidos de algodão, pôs uma venda nos olhos e deitou-se confortavelmente e não demorou muito estava dormindo profundamente.

Acordou no dia seguinte com a mãe esmurrando a porta, levantou-se assustado, com o coração aos pulos.

“Está se sentindo bem, meu filho? “Você não acordava, dormiu desde ontem à tarde e eu fiquei preocupada. Eu pensei que restavam dois comprimidos, mas não encontrei nenhum e já passou da hora, você não comprou ontem?”

“Eu dormi desde ontem? Pior que eu não sonhei. De qualquer modo agora não dá mais tempo, os números foram sorteados ontem, vamos continuar pobres.” – deixou escapar o pensamento falando baixinho.

- O que, meu filho?

- Nada, mãe, esquece. Eu vou à farmácia comprar o seu remédio.

Antes de ir à farmácia, entrou na casa lotérica para conferir, só por teimosia. Quando viu o resultado, lembrou-se imediatamente da sequência dos números que o sortudo tinha informado a ele no sonho. Eram os mesmos, menos o último. Ficou aliviado e agradeceu mentalmente ao anão por ter-lhe feito poupar o dinheiro do remédio tão necessário para sua mãezinha.

Entrou na farmácia e a balconista sorriu para ele. Quando foi pagar a conta perguntou:

- Você melhorou, soube que estava doente...

- Foi só um mal estar, mas já estou pronta pra outra, mas se ficou preocupado porque não me ligou?

- Eu fui jogar o envelope de camisinha fora e a notinha com o número do seu telefone foi junto. Eu comprei só pra me aproximar de você e fiquei desesperado quando eu soube que você estava doente eu não podia ligar.

- Rápido assim? Ainda nem começamos...

- Já que você agora está bem, a gente pode começar hoje se você quiser...

Um camarada vivia ali pelas redondezas era conhecido como Urubu, acho que por estar sempre sujo e com roupas pretas ou imundas, sei lá. Talvez porque comia restos de restaurantes que às vezes disputava com os cachorros. De acordo com o tempo dormia em baixo de uma marquise ou no banco da praça, nesse caso se não tivesse ameaça de chuva. Só não ficava embaixo de árvores com medo de passarinho fazer cocô em cima dele (é ruim mesmo receber um tirinho daqueles, pior quando cai dentro da orelha). Naquele dia ele estava endiabrado, ainda não era efeito de cachaça porque era cedo. Ele estava justamente em frente à padaria na esperança que alguém lhe pagasse um café com pão.

Copo de bar e padaria deve ser infestado de bactérias, todo mundo põe a boca, argh! Você acha que os caras lavam e desinfetam direitinho?

Imagine: O Urubu bota os beiços no copo (uma quantidade imensa de bactérias devem morar na boca do sujeito), bebe um gole do café, mastiga o pão, toma mais um gole, senta-se na porta da padaria, põe o copo no chão (pior que a boca do sujeito deve ser um viveiro, sabe de que não é? Apesar de que nem sei se alguma bactéria resiste ao bafo. Mas como na natureza acontecem coisas que a gente nem imagina, só os biólogos mesmo para descobrir isso, quem sabe existe bactéria que só vive na boca de mendigo que nem sabe o que é colgate ou close up?). Acaba de tomar o café e põe o copo em cima do balcão. O atendente pega o copo junto com outros e põe dentro da pia, depois alguém passa uma esponja com sabão, quando passa, e coloca no escorredor para ser utilizado novamente pelo próximo freguês...

O fato é que ele tinha acabado de tomar uma média com pão e manteiga que alguém pagou para ele. Porque alguém sempre tem que pagar, o dono da padaria não pode dar para o pobre? Assim que ele acabou de tomar o desjejum começou a confusão. Ele iniciou uma discussão com a própria imagem refletida no espelho que tinha numa pilastra do estabelecimento:

- Tá me olhando por quê?

- Tá falando comigo?

- É, contigo mermo?

- Ah, vai plantar batata!

- E você vai ver se eu estou na esquina!

- Eu vou é lhe dar uma bolacha!

- Vem, se você é macho!

Ele estava muito agressivo, os olhos esbugalhados e vermelhos de ódio. Falava alguma coisa a respeito de uma garrafinha de cachaça. A acusação era que o outro tinha tomado a birita dele durante a noite e que agora ele não tinha dinheiro para comprar mais.

Ele partiu para a agressão física, esbofeteando-se e dando socos na própria barriga, até chutar-se ele conseguia, por incrível que pareça. De repente o cara pegou uma faca que o atendente deixou sobre o balcão e tentou atacar-se, mas foi impedido por um anão escurinho que estava tentando comprar pão há mais de dez minutos, mas ainda não tinha sido notado por causa do movimento intenso naquela hora da manhã e foi corajoso o suficiente para embolar com ele que, surpreso, deixou a faca escapulir da mão.

- O que é isso, meu chapa? Tudo bem que você não preste para nada, que ninguém vai sentir a sua falta, mas suicídio na minha frente não. Eu não consigo ver essas coisas.

- Suicídio é uma ova, eu queria era matar esse safado que tomou a minha cachaça e isso se chama é assassinato, disso eu sei muito bem. Eu moro na rua, mas não sou burro, eu estudei até o ginásio antes de ir pro hospital. Além disso, eu não admito que uma criança fale comigo desse jeito.

Levantou-se e foi caminhando, iniciando o seu trabalho de perambular pelo bairro.

Era domingo de manhãzinha e a Carminda, uma loura bem cuidada, apesar da viuvez prematura estava passeando com um cachorro na rua. Era um cachorro grande, daqueles que parecem mais um cavalo. Diziam as más línguas, que o bicho servia de consolo à falta do falecido marido, o Amarildo. Ele chegou logo que o outro se foi, atropelado por uma ambulância que tentava salvar uma vida. Era segundo alguns, o Amarildo reencarnado, pior, diziam que a relação da Carminda com o Amarildo era parecida com a que ela mantinha com o cachorro, que ela chamava de benzinho.

Quando ela passou na porta do bar sendo arrastada pelo cachorro, pois é: ela levava o cachorro para fazer cocô na rua e urinar nos postes, mas era ele que comandava as ações, porque ela não tinha forças para segurar aquele boi, apesar da academia três vezes por semana.

As cabeças dos frequentadores se viraram na mesma direção acompanhando a cena, evidentemente para apreciar o corpão da viúva do saudoso Amarildo. Não faltaram, lógico, os fiu-fiu de praxe e as piadinhas que o cachorro tinha a vida que eles pediam a Deus.

De repente começou a confusão: o anão estava saindo da padaria apressado para levar o pão para casa, quando o cachorro viu aquela coisinha miúda correndo desajeitadamente (ele tem mania de implicar com os mais fracos fazendo-se de valentão. Deve ser complexo porque são levados por mulher na ponta da corda), deu um solavanco e quase se soltou da mão da Carminda que acabou sendo arrastada, enquanto o anão, desesperado, tentava ser rápido o suficiente para escapar das garras do cachorro (nessas ocasiões parece que as pernas ficam menores).

A sorte do pequenino é que a Carminda, para demonstrar a superioridade humana pela capacidade de raciocínio e também para desmentir a história de que toda loura é burra, apesar de que a maior parte das loiras é morena disfarçada, inclusive ela, e, também, na maioria das vezes, os argumentos que levam à conclusão baseiam-se exclusivamente nas aptidões físicas, teve a ideia de enrolar a correia no poste do sinal de trânsito. O anão subiu no colo do Arlindo, um coroa aposentado que naquela hora estava tirando uma casquinha no jornal exposto na banca. Quando subiu, o anão, com um dos pés, forçou o elástico da cintura da sua calça do pijama que, não encontrando resistência deslizou até se acomodar num montinho sobre os chinelos. O Arlindo, segurando o anão no colo, ficou estático, mas todo mundo virou a cara em respeito a sua nudez inesperada, também não existia mais ali nada que agradasse, nem ele deveria ter ainda interesse naquelas suas partes. Até o cachorro desistiu de perseguir o anão e só o sobrenatural deve explicar, deu o último latido para o baixinho como se dissesse: “Na próxima eu te pego” e afastou-se arrastando a Carminda. O objetivo mudou para algo mais interessante: uma cadela que vinha chegando acompanhada de uma vizinha da Carminda. Quem socorreu o Arlindo foi o Bebe-todas, um sujeito que dorme na rua e quando acorda já está bêbado. Enquanto levantava as calças do Arlindo, que ainda estava imóvel, mais assustado que o anão no colo dele, disse: “Deixem os mortos em paz” (referindo-se ao membro branco e comprido como uma salsicha alemã do Arlindo), Fazendo careta quando o pênis circuncidado apontando para o chão prendeu no elástico da calça. “Vamos guardar o gato de armazém” (nesse caso aludindo àquela espécie de animais que dormem em cima dos sacos de aniagem próprios para estocar grãos nos armazéns). Passado o perigo, o anão desceu do colo do Arlindo, que envergonhado apressou-se em voltar para casa.

O Ernesto estava na porta do bar e assistiu toda a confusão provocada pelo cachorro da Carminda. Ele observou que muitas pessoas passeavam com animais pela rua, às vezes apressadamente por conta de seus afazeres, obrigando os pobres dos bichinhos a interromperem a execução de suas necessidades caninas, por conta da obrigação de se adaptar ao “modus vivendi” dos respectivos donos. Então, para justificar a sua fama de empreendedor, teve a ideia de abrir uma escola-creche para cachorros, aproveitando-se da prática atual de se considerar esses animais como filhos, ou membros da família. Pior, são tratados como bebês não importando a idade do bicho, até fraldas eles são obrigados a usar para não sujar o sofá da sala ou a colcha da cama. Alguns machos recebem hormônios de fêmea para deixarem de ter o interesse natural pelas cadelas, enquanto estas são operadas para não correrem o risco de ser fecundadas. O exagero pode fazer mal aos bichos, como ele tinha lido numa publicação especializada. Há quem permita até que o animal durma em sua cama, com a possibilidade, inclusive, de outras coisas ligadas à sexualidade dos homens, confundindo a cabecinha do animal, que pode até surtar. Os animais praticamente não latem, só sabem ganir, principalmente quando estão sozinhos.

Esses cachorros de apartamento até viram a cara quando veem uma fêmea, preferem assistir ao Barney na televisão. Alguns desvirtuaram tanto da origem, que até conseguem conviver harmoniosamente com gatos. Participam de desfiles de moda e fazem banho de ofurô com sais relaxantes se estiverem muito estressados. Elas por sua vez, quando estão no cio, ficam vidradas naqueles cachorros diferentes que vivem na rua, com a musculatura desenvolvida de tanto fugirem da carrocinha, totalmente escolados na matéria, quando se trata de uma cadela naquela fase. Esses cães autênticos ainda procuram manter as tradições da espécie, como correr atrás de carro e motocicleta e levantar a pata para urinar no poste ou qualquer coisa que possa ser utilizada com essa finalidade e só fazem cocô na terra para poderem jogar um pouco por cima depois da cheirada de praxe.

O Ernesto tinha experiência em outros negócios: já teve pizzaria delivery nos fundos da sua casa, cujo empreendimento não foi adiante porque a obra de construção de um edifício na sua rua, após a conclusão, deixou de fornecer o combustível que ele utilizava no forno à lenha e também os fregueses de sua outra atividade paralela, fornecimento de quentinhas para os operários.

Outro empreendimento dele foi engarrafamento de água mineral. Ele morava numa meia-água encostada na parede dos fundos da igreja de São Jerônimo. Ele descobriu um cano de água da igreja que passava pela parede da cozinha e instalou uma torneira. Ele enchia garrafinhas de plástico com água e colava um rótulo que ele mandou imprimir com a imagem do santo onde mandou escrever: “Quase benta – Direto da fonte São Jerônimo, com a benção do padre Pedro.” Ele pagava alguns garotos para venderem nos sinais de trânsito. O negócio prosperou até que a mulher dele, beata que só ela, confessou ao padre e mostrou uma garrafinha. Logo depois a fonte secou.

A creche-escola iria funcionar numa casa nos fundos de um restaurante self-service no qual ele trabalhou por uns tempos como garçom e ao mesmo tempo era fornecedor de hortaliças que ele comprava bem cedo na Ceasa e embalava em saquinhos como se fossem orgânicos. O negócio não prosperou porque o produto tinha alto grau de perecimento e dava muito trabalho, além de não ser muito lucrativo.

Os profissionais que iriam trabalhar na creche foram bem escolhidos: Um deles, o Paulo, conhecido como “Bulldog”, enviou um currículo em que relatava muita experiência no trato com animais, chegando ao cúmulo de dizer que uma cadela tinha sido sua ama-de-leite porque o da mãe não era suficiente. Incluiu no currículo um certificado de conclusão de um curso a distância sobre a origem e evolução dos cães. Assíduo frequentador de bailes funk, pelo que lhe garantia muita experiência com as “cachorras”. Algumas delas, segundo ele, até habitavam o seu apartamento por alguns dias. O documento elaborado por ele incluía diversas impressões digitais de animais, que lhe garantiam a experiência, apesar de que uma delas não parecia de cachorro pelo tamanho minúsculo estava mais para porquinho-da-índia e outras eram humanas, provavelmente das “cachorras”. Ele foi admitido, porque convenceu o experiente Ernesto, embora tenha sido o único interessado na vaga de professor.

Durante a estadia na instituição, segundo disseram o Ernesto e o Paulo na palestra inaugural, os bichinhos iriam praticar atividades condizentes com a sua espécie com a finalidade de tentar preservar os seus instintos, tais como: pegar o gato, xixi no poste (para os machos, lógico), “Aliás, essa prática pode parecer besteira, mas era muito importante para os cães, porque levantar uma das pernas traseiras permite urinar (fazer o número um atualmente) na altura do focinho dos outros para demarcar o seu território, como os seus ancestrais, os lobos, faziam.” - disse o Paulo. Eles também iriam praticar ciscar areia no cocô, latir para algo suspeito, correr atrás de moto e carro latindo. O Paulo achou importante ressaltar, também, que essa prática vem dos tempos em que os cachorros e lobos precisavam caçar para comer. Hoje eles recebem comida dos seus donos em pratinhos com o seu nome. Como há muito tempo eles não fazem isso, principalmente os que vivem aqui na cidade, os gens foram, aos poucos, desativados, por isso alguns cães ainda correm atrás de carros, mas quando o veículo para eles não sabem o que fazer. Também teriam aulas práticas de roer osso e rosnar quando alguém chegar perto, como nos velhos tempos, de latido de acordo com as circunstâncias (ministradas pelo vira-lata do Bulldog) e prática sexual (só com autorização dos pais).

Durante o curso também iriam aprender a realizar algumas tarefas úteis em casa, como guardar chinelos e sapatos, a avisar quando estivessem com vontade de fazer xixi ou cocô, a não sentar no sofá quando chegasse visita em casa, as meninas a não tirar a calcinha nem se lamber quando estivesse menstruada, etc. Outro instinto que os cães de certa forma preservam, o Paulo se lembrou de falar, a título de curiosidade, quando viu um cãozinho lambendo a boca da “mamãe”, é que as pessoas pensam que eles estão querendo beijar imitando os homens, mas não é o caso, o que eles querem é comer. Os lobinhos comiam o alimento regurgitado pelas mães. Quando o seu cãozinho pula para alcançar o seu rosto e você pensa que ele está fazendo festa e querendo lhe beijar, mas ele está querendo que você regurgite comida para ele. O melhor é que os pais poderiam acompanhar em tempo integral, se quisessem, as atividades dos seus filhotes pela internet.

Por um pequeno acréscimo na mensalidade, os bichinhos teriam direito a plano de saúde, resultado da parceria com um veterinário amigo do pai dele que era dono de uma clínica em Bangú. A contratação do plano de saúde não estava vinculada à matricula na creche, qualquer pessoa poderia contratar o plano para seu “filhinho”. A expectativa era que o negócio expandisse muito, inclusive estava pensando em abrir uma filial da clínica no bairro incluindo tratamento dentário e psicológico.

Apesar de parecer incoerente com a finalidade da creche, mas em conformidade com os escrúpulos do Ernesto, a casa foi adaptada para realizar eventos e festas de aniversário para os animais de estimação, com animação do Paulo.

Para conquistar a freguesia, o primeiro dia da creche iria ser gratuito, para saber se os bichinhos iriam se adaptar ao ambiente diferente dos respectivos lares. Na inauguração teve bandinha, doces e bolo próprios para eles.

Depois da festividade, os cachorrinhos mimados não queriam sair do colo das mamães e dos papais que estavam eufóricos e empurravam seus bebês para entrarem pelo portão da escola enquanto eles resistiam e tentavam voltar para o conforto dos carrões com ar condicionado e ficavam ganindo com doída expressão na cara como se dissessem: “Eu não quero ir mamãe”.

A creche foi um sucesso durante cerca de seis meses. Os primeiros alunos já estavam começando a se comportar como cachorros realmente, inclusive provocando reclamações de alguns vizinhos que criavam gatos, porque os alunos não paravam de latir para os bichanos. Em casa, alguns deles passaram a rosnar para entregadores de pizza e das farmácias, fora a confusão quando os machos viam uma cadelinha passeando com a mamãe na rua. Apesar de tudo, a quantidade de alunos estava aumentando e o Ernesto teve que contratar outro funcionário. Ele encontrou o anão na rua e se lembrou da performance demonstrada no dia em que foi perseguido pelo cão da Carminda, e pensou que ele poderia divertir muitos os alunos da creche e lhe ofereceu o emprego.

No primeiro dia de trabalho do anão ele entrou assoviando na escola justamente na hora em que os cães estavam praticando atividade pega o gato. Quando eles viram aquela coisa miúda e pretinha, balançando para um lado e para o outro enquanto andava, partiram todos para cima dele. O pobre do anão esbugalhou os olhos e correu o máximo que suas pequenas pernas permitiam, quase nada em relação aos seus perseguidores, principalmente os maiores. O jeito foi derrubar tudo que encontrava à frente para tentar impedir o ataque das mandíbulas. Formou-se baita confusão: as unhas dos cachorros rasgaram a piscina de plástico e a enxurrada carregou um “mignon” e o papai, desesperado ficou gritando por socorro enquanto o bichinho era arrastado. Quando o anão passou correndo pelo apertado corredor de entrada, derrubou a lata de lixo do restaurante e espalhou comida estragada pelo chão e a cachorrada caiu de boca para desespero das famílias, contando que na certa iriam ter indisposição estomacal. Um cachorro adotado por uma senhora, que foi doado por uma moradora de rua, matriculado na escolinha para ser reeducado, aproveitou a situação e encaçapou uma cadelinha que estava visitando a escola e estava no cio, o que fez as mães ficassem se acusando mutuamente enquanto esperavam o desengate natural. A dona da cadela dizia em altos brados que iria processar a dona do vira-lata (pelas circunstâncias atuais está mais pra rasga saco, porque os resíduos das casas deixaram de ser acondicionados em latas, substituídas por sacolas de supermercado ou sacos plásticos) que prejudicou o pedigree da cadelinha, a menos que a dona do vira-lata pagasse o aborto, nem queria saber se era crime ou não. O fato é que deu até polícia e a escola foi fechada.

A Ieda conheceu o Bruno lá no Salão de beleza. Ele era seu cabeleireiro preferido. Loiro com o cabelo comprido e muito bem tratado. Tinha o rosto bonito e o corpo malhado na academia. Um gato, pena que era homossexual. Ele dizia que tinha vindo do interior de Minas Gerais com um irmão gêmeo para trabalhar, porque lá na cidade dele não tinha mercado. Eles estavam cansados de viver na fazenda dos pais sem fazer nada. O irmão ainda ficava lá com os peões cuidando do gado, mas ele não tinha jeito pra isso, além do mais ficar no meio daqueles homens todos era perigoso e eles eram muito grosseiros. Só tinha um que lhe interessava e ele até tentou se aproximar, mas o camarada saiu fora. Assim ele só se realizou sexualmente aqui no Rio.

Segundo ele, o irmão fazia faculdade em Niterói durante o dia e à noite dava aulas de inglês, por isso raramente era visto. Ele também não gostava muito de ficar em casa porque não admitia que o irmão fosse bicha. Às vezes nem vinha para casa, deveria ficar com alguma mulher, porque era metido a garanhão. Lá na cidade deles já tinha namorado quase todas as meninas.

O Bruno, por sua vez, fez curso profissionalizante de cabeleireiro e depilação. Adorava viver no ambiente feminino, era a glória.

Os comentários a respeito do irmão só faziam atiçar a curiosidade da mulherada que freqüentava o salão. Imagine, elas comentavam, um irmão gêmeo e homem dessa bicha linda!

Eles acabaram ficando amigos íntimos. Ele freqüentava a casa dela e saiam juntos e até se comentava que ele algumas vezes dormiu por lá.

A Patrícia, ex-mulher do falecido Adonias, estava trabalhando como manicure no salão de beleza, inclusive quem pediu por ela foi o Bruno, que era muito amigo dela, ficou com pena depois que o Adonias morreu e a deixou sem um tostão furado e sem casa para morar, porque a viúva oficial a pôs para fora, apesar de que o advogado que é marido de uma das suas amigas está tentando resolver o problema dela conforme prometeu.

A Ieda estava de papo com ela, enquanto fazia as unhas. A Patrícia ficou se lamentando por causa da sua situação e disse que apesar de ele era bem mais velho do que ela, vivia muito bem com ele, inclusive no quesito cama. A Ieda lembrou-se dos assédios costumeiros por parte do falecido e revelou para a Patrícia, que curiosamente não se admirou. Disse, inclusive, que provavelmente, ao contrario da Ieda, que não cedeu aos assédios, outras devem ter aceitado, porque ela bem sabia que ele era louco por mulher, principalmente as mais novas e bonitas. E conversa vai, conversa vem, perguntou à Ieda se ela já tinha transado com um homossexual. A Ieda ficou rubra como tomate e quis saber porque a pergunta repentina. A Patrícia disse que a melhor transa dela foi com uma bicha, bem melhor que o Adonias, aproximou-se para lhe cochichar ao ouvido: foi com o Bruno, lá em casa, antes de eu sair, ele estava me consolando por causa dos meus problemas e quando eu dei por mim já estava nas nuvens. Depois que acabamos ele disse: “Olha amiga, esquece o que aconteceu, eu só fiz porque estava com muita peninha de você, mas o meu negócio é outro, tá?!”

“Que desperdício!” - Ela disse olhando para ele, que fingia não estar interessado no assunto delas enquanto pintava os cabelos de uma cliente – “Bem que eu tentei outras vezes, mas ainda não fui bem sucedida, não vejo a hora dele me consolar de novo. Eu estou sabendo que ele anda fazendo caridade com várias mulheres que frequentam o salão, inclusive casadas. Pelo fato de ele ser escolado nesse lance de moda, também porque ele tem muito bom gosto, elas pedem para ele ir até a casa delas para fazer maquiagem, escolher roupa, pentear cabelo e até depilação particular, quando têm alguma festa, e por ter visto quase todas seminuas pra fazer depilação elas não têm cerimônia nenhuma em tirar a roupa na frente dele e sempre rola uma transa. Acho até que ele nunca foi bicha, só tinha vontade ou estava na dúvida, porque ele sabe fazer direitinho, e como!”

A Ieda, assim que terminou de fazer as unhas, aproximou-se dele e disse que queria fazer depilação novamente e tinha que ser naquele dia porque ficou com um pelinho encravado que a estava incomodando muito. Disse que queria que ele fosse à casa dela depois do expediente no salão.

Ele coçou a cabeça, pensando com seus “botões”: “acho que pegou. Pela cara dela rolou algum papo que não deveria, bem que eu estava desconfiado quando elas estavam cochichando”. “Claro meu amor! Pode deixar que eu irei, sem falta, tratar do pelinho encravado. Beijoca!”

A Ieda saiu furiosa do salão, mas ao mesmo tempo preocupada porque tinha inventado a história do pelo encravado e não sabia como dizer para ele que era mentira. Na verdade ela queria tirar a limpo a história que a Patrícia contou. “Será que ele tinha dado com a língua nos dentes?” – ela pensou. “Ou uma coisa ou outra: Ou ele contou pra ela ou fingiu nas três vezes que ele dormiu na sua casa, porque na primeira vez ele utilizou a mesma frase, na segunda e na última ele não falou nada, ele agiu com naturalidade como se fossem amantes, até se beijaram com muito desejo. Ela, inclusive, pensou que ele estava deixando de ser bicha, apesar de continuar com todos os trejeitos. Chegou a perguntar a ele, quando estavam na cama, se ele queria morar com ela. Ele disse que não, que gostava da liberdade de ser solteiro, já tinha o problema de morar com o irmão, que o impedia de levar os namorados para o seu apartamento. “Você está se acostumando mal por causa desse meu coração mole e está confundindo as coisas.” - ele falou, embora continuasse agarrado com ela na cama.

“Pior é que eu acho que estou gostando dele. Era só o que me faltava, apaixonada por um homossexual!” – ela pensou.

Quando ele entrou no apartamento dela, ela fechou a porta e foi logo falando que não tinha pelo encravado nenhum, só queria tirar uma dúvida a respeito de uma coisa que lhe contaram sobre ele:

- Bruno, você pode até dizer que eu não tenho nada com a sua vida, mas eu confesso que não estou conseguindo me controlar. Eu acho que estou com ciúme porque você anda transando com um monte de mulheres, pelo que eu soube. Além do mais você me disse que mulher não é a sua praia. Vai me dizer que sempre acontece como foi comigo?

Ele ficou calado por alguns minutos, pensando no que iria dizer.

- Fala. – ela pediu.

- Claro que sempre acontece do mesmo jeito que foi contigo. Vocês são muito carentes e eu fico com peninha...

- Até as casadas?

- Essas são safadas mesmo. Pior que ficam dando uma de honesta na frente dos outros.

De repente ele se deu conta que tinha esquecido e falado com a voz normal, sem os trejeitos característicos necessários ao disfarce. Só percebeu quando ela se espantou com a mudança.

- Não dá mais pra continuar. Eu sou homem com agá maiúsculo e gosto mesmo é de mulher. Eu só armei isso tudo pra me enturmar e comer todas. Mas você me conquistou e conseguiu acabar com a minha trama. Eu estou gostando de você desde a primeira vez que fomos para a cama e também estou cansado de fingir que sou homossexual e estou com receio de me acostumar a agir como um e ficar sempre falando como mulher. Pronto, acabou. Você quer namorar um ex-bicha?

Ela ficou olhando para ele com os olhos brilhando de felicidade. Depois agarrou-se ao pescoço dele e o beijou, não precisava dizer nada.

Quando se afastaram ele disse:

- Eu vou embora para Minas e não volto mais.

- Eu não estou entendendo.

- Você fica namorando o meu irmão que é igualzinho a mim.

- Pode ser igual na aparência, mas não é a mesma pessoa e eu gosto do conjunto.

- Então eu vou confessar mais uma coisa: não tenho irmão gêmeo. Era só pra me precaver se alguém me visse com roupas normais. Foi bom, porque eu vou embora para Minas e você vai namorar o meu irmão e ninguém vai saber que sou eu.

- E se eu preferir a bicha?

- A bicha já morreu. Vai topar ou não.

- E eu sou louca?! Agora eu quero conhecer o Bruno como homem.