O FRIO, O SERTÃO - CAPÍTULO I
- Não pai!!! Por favor! – era um grito de horror, de medo, e era ouvido de longe.
- Cale a boca! Que eu não sou seu pai, sua rapariga desgraçada!!! – Soou o barulho de um tapa.
Não se entendia o porquê daquilo, mas se sabia o motivo de sua fúria tão correta aos olhos dos que ali moravam.
Há tempos que este tipo de história se repete, história talvez, muitas vezes já vivida pelo que agora pune sua cria, talvez pelo ódio de ver em seu filho sua própria dor, talvez por estar estragado demais pelos costumes, os quais “nunca são certos ou errados”, babaquices da sociologia, o maior costume deveria ser a liberdade!
O certo ali, era agradar os olhos dos outros, era ter a certeza que alguém encheria seu copo de cana num boteco, ou que as comadres apoiariam sua atitude, o correto era ficar conhecido como homem ou mulher de ‘moral’, falsa moral?
Não importa, o importante era parecer certo, mesmo que o sono nunca mais visitasse sua cama.
Naquela casa pequena, de não mais que dezesseis metros quadrados, os gritos fugiam pelas frestas do telhado que não tinha laje, o chão de concreto puro aumentava ainda mais o sofrimento quando a menina era arrastada.
Aquele era o retrato da pobreza, móveis estragados e velhos, mofados pelas chuvas de inverno que invadiam a casa devido à péssima arquitetura.
Os quartos não tinham portas, quando muito eram separados por cortinas, a sala era preenchida com um ótimo aparelho de som, uma bela TV e um aparelho de DVD, comprados com o dinheiro do bolsa família, bem moderno, que fazia contraste com as paredes sem acabamento no puro reboco.
O pai batia, com aquela mão medonha de fazer serviços brutos, que agora servia também para marcar o corpo da sua filha vergonhosamente, e rasgar-lhe as roupas que cobrem o seu corpo, não é visto mais um palmo de pele que não seja vergão, não se sabe ao certo, onde isso vai terminar, mas é sabido que este fim não está perto.
- Pai, pelo amor de nosso senhor, pare meu pai, pare! Tá doendo demais meu pai! Ai! – Suas súplicas foram caladas por um puxão de cabelo que a arrastou para a cozinha.
Os olhos do homem rude faiscavam de ódio, quando se encontravam com o da filha, e o misto no olhar da menina de pavor, dor e súplica lhe cobrava a explicação do porquê daquilo, ele não se abalava, parecia um animal faminto.
Era um ciúme possessivo, enquanto a espancava, perdia tempo em olhar as curvas do corpo de sua filha, os seios já descobertos pela violência contínua, e o acentuado na barriga que fazia questão de lhe martirizar.
- Doendo? Doendo tá meu juízo de arrependimento de não lhe tê dexádo morrê di fome quando tu nascesse!- O homem dizia isso segurando a menina pelos cabelos e apontando contra seu rosto uma faca peixeira - Bem que meu cumpadi já me dizia que fia mulé, quando num se casa cedo só vévi pá fazê disgosto!!! Agora eu vô é corta seus cabelo nessa faca que eu quero vê qual é o fi-da-mulesta que vai te querê bobonca!
- Não pai!!!...
A menina gritava, e o pai seguia com suas agressões, a mãe temia por sua morte, enchiqueirada no terreiro da casa, em prantos silenciosos abraçada com seus quatro filhos menores e uma criança de colo, ninguém aparecia, nenhum vizinho, amigo, conselho tutelar ou polícia, que servia apenas pra prender bêbados e agredir cidadãos.
Os gritos da menina foram abafados, o pai não gritava mais, ouvia-se o ranger de um móvel, a mãe se desesperou, mas seus gritos não eram ouvidos...
Graciliano Tolentino
- Não pai!!! Por favor! – era um grito de horror, de medo, e era ouvido de longe.
- Cale a boca! Que eu não sou seu pai, sua rapariga desgraçada!!! – Soou o barulho de um tapa.
Não se entendia o porquê daquilo, mas se sabia o motivo de sua fúria tão correta aos olhos dos que ali moravam.
Há tempos que este tipo de história se repete, história talvez, muitas vezes já vivida pelo que agora pune sua cria, talvez pelo ódio de ver em seu filho sua própria dor, talvez por estar estragado demais pelos costumes, os quais “nunca são certos ou errados”, babaquices da sociologia, o maior costume deveria ser a liberdade!
O certo ali, era agradar os olhos dos outros, era ter a certeza que alguém encheria seu copo de cana num boteco, ou que as comadres apoiariam sua atitude, o correto era ficar conhecido como homem ou mulher de ‘moral’, falsa moral?
Não importa, o importante era parecer certo, mesmo que o sono nunca mais visitasse sua cama.
Naquela casa pequena, de não mais que dezesseis metros quadrados, os gritos fugiam pelas frestas do telhado que não tinha laje, o chão de concreto puro aumentava ainda mais o sofrimento quando a menina era arrastada.
Aquele era o retrato da pobreza, móveis estragados e velhos, mofados pelas chuvas de inverno que invadiam a casa devido à péssima arquitetura.
Os quartos não tinham portas, quando muito eram separados por cortinas, a sala era preenchida com um ótimo aparelho de som, uma bela TV e um aparelho de DVD, comprados com o dinheiro do bolsa família, bem moderno, que fazia contraste com as paredes sem acabamento no puro reboco.
O pai batia, com aquela mão medonha de fazer serviços brutos, que agora servia também para marcar o corpo da sua filha vergonhosamente, e rasgar-lhe as roupas que cobrem o seu corpo, não é visto mais um palmo de pele que não seja vergão, não se sabe ao certo, onde isso vai terminar, mas é sabido que este fim não está perto.
- Pai, pelo amor de nosso senhor, pare meu pai, pare! Tá doendo demais meu pai! Ai! – Suas súplicas foram caladas por um puxão de cabelo que a arrastou para a cozinha.
Os olhos do homem rude faiscavam de ódio, quando se encontravam com o da filha, e o misto no olhar da menina de pavor, dor e súplica lhe cobrava a explicação do porquê daquilo, ele não se abalava, parecia um animal faminto.
Era um ciúme possessivo, enquanto a espancava, perdia tempo em olhar as curvas do corpo de sua filha, os seios já descobertos pela violência contínua, e o acentuado na barriga que fazia questão de lhe martirizar.
- Doendo? Doendo tá meu juízo de arrependimento de não lhe tê dexádo morrê di fome quando tu nascesse!- O homem dizia isso segurando a menina pelos cabelos e apontando contra seu rosto uma faca peixeira - Bem que meu cumpadi já me dizia que fia mulé, quando num se casa cedo só vévi pá fazê disgosto!!! Agora eu vô é corta seus cabelo nessa faca que eu quero vê qual é o fi-da-mulesta que vai te querê bobonca!
- Não pai!!!...
A menina gritava, e o pai seguia com suas agressões, a mãe temia por sua morte, enchiqueirada no terreiro da casa, em prantos silenciosos abraçada com seus quatro filhos menores e uma criança de colo, ninguém aparecia, nenhum vizinho, amigo, conselho tutelar ou polícia, que servia apenas pra prender bêbados e agredir cidadãos.
Os gritos da menina foram abafados, o pai não gritava mais, ouvia-se o ranger de um móvel, a mãe se desesperou, mas seus gritos não eram ouvidos...
Graciliano Tolentino