'' O TESTAMENTO ''

O bebe foi achado na lixeira de um dos predios do condominio riquissimo, estava embrulhado em jornal.Tinha ainda o cordao umbilical atado 'a ele.Foi levado ao hospital. Sobreviveu. E como era uma menina, foi lhe dado o nome de Durvalina, o mesmo da faxineira que ao ouvir o choro, a salvou.

Todas as '' empregadas domesticas'' do predio em frente do qual o bebe foi encontrado foram ouvidas, examinadas, nada se apurou, nunca a mae foi encontrada, e a policia se esqueceu de um pequeno detalhe...o lixo era sempre colocado ao lado de fora dos predios 'a noite ou entao logo de manha bem cedinho para o caminhao de lixo vir apanhar, e Durvalina encontrou Durvalina bem depois que ja' tinham '' amontoado '' o lixo.

Qualquer '' uma '' poderia ter tido o bebe longe dali, passando como nao quer nada em frente ao lixo amontoado e jogado o pequeno saco de lixo no meio dos outros, ninguem viu nada, ninguem sabia de nada e mesmo pela portaria com vigilante e tudo, passaria facil facil, se morador passa direto e visitantes e' so' dar nomes e mostrar a indentidade e pronto...passou, e passaram tantos naquela manha antes que Durvalina encontrasse Durvalina...falhas, falhas.

O orfanto recebeu Durvalina e ali ela cresceu. Era inteligente. Tudo aprendia. Tudo ouvia. Tudo sabia. Esperta. Danada, mas coitada, como era '' desengoncada'', ate' meia '' torta'' ela era, pendia para um lado, desvio da espinha diziam...coitada!!! e tinha uma perna centrimetros mais curta que a outra...mancava ainda por cima a pobre menina...mocinha...mulher....mulher que queria casar, ter familia, filhos...marido, isto , isto e' o que mais Durvalina queria ...um marido...mas cade? meninos fugiam dela, mocinhos a evitavam e agora os homens nem segunda olhada para ela davam...e ela ja' estava nos seu 21 bem formados, os 21 bem formados, que no corpo!!...coitada!!!

E ao completar 21 a diretora do orfanato lhe entregou um envelope, grande, amarelado. Abriu e foi receber o que era seu de direito. Era rica agora, mas ainda continuava '' desengoncada e mancava'' e pensava:- assim vou ficar e homem que me quiser assim sera' que ele me tera'...ou me ama por mim e nao pelo meu dinheiro ou nao me tera'...nenhum homem a teve e ela nenhum homem teve...ficou na saudades, ficou na virgindade, pura e intacta, intocada. E assim continuou, magra, magerrima, tanto , tanto, que sempre ao se olhar no espelho pensava:- ovos fritos...meus peitos parecem mesmo ovos fritos....nem livaga, era rica..mas era sozinha.

E os 60 e tanto chegou. O medo da velhice sem amparo e o pior, medo da '' morte'' por inutilidade de vida sovina que levava, com tanto que teve, que tinha, nunca um tostao gostava de gastar...era pao-dura mesmo, e um sonho tinha.

Procurou um escritorio de advogados. Marcou dia e hora. E na hora certa chegou. A secretaria recebeu e ao Dr.Marcelo a levou.

Durvalina ao ve-lo pensou:- tao jovem, sera' competente?

Marcelo tinha 35. Era casado com a filha do dono do escritorio.Era ambicioso. O casamento provava isto. E ouvia Durvalina no que ela tinha a dizer:-

Metade dos meus bens ficara' para o orfanato que me criou. A outra metade para o homem que me '' deflorar, me fizer mulher'', que virgem ainda sou....e entregou ao Dr.Marcelo sua declaracao de bens.Ele ficou livido, deu um assobio, depois um suspiro profundo, se reencostou na poltrona de couro legitimo e deu uma boa olhada para Durvalina. Valia a pena, pensou!!!

Marcelo , treis dias depois, levou os papeis para ela assinar.

Vinho...vinhos...ahhhhh!!!! nectar que Baco criou e aos homens e mulheres ensinou a fazer....vinhos!!!! brancos, rosados, tintos, vermelho da cor do sangue...espumantes, borbulhantes, embriagantes, vinho que se bebido um pequeno copo ao dia faz bem ao sangue, refina, mas que se bebido em demasia faz ver coisas, fazer coisas, deixar de ver coisas, deixar de fazer coisas..entorta a mente e a visao, cria ilusoes, solta os '' bichos'' de dentro de cada um...solta o carneiro, solta o leao, solta a cabra , solta a vaca e cachorras e lobas se ouvem a '' uivar''. E o envelope foi rasgado e mais uma vez o lixo entrou na historia...para o lixo foi o envelope rasgado.

O orfanato nunca recebeu a sua metade.

Quem recebeu tudo foi Marcelo e quem tambem recebeu a notificacao do divorcio foi sua esposa que chorosa ainda tentava uma explicacao, que nao teve nunca e nem nunca mais encontrou com Marcelo, ele estava muito ocupado viajando pelo mundo com sua nova esposa, Durvalina, e neste momento se encontrava em Cancun, Mexico, tratando da compra de uma '' hacienda'' por la', pretendem passarem sempre 3 meses no verao por la'....gente fina e rica e' outra coisa!!!!...nao veem diferencas de idade nem nada, so' sabem ver a cor do dinheiro...que neste caso e' verde e tem nome '' do lar'', do lar da Durvalina ? ou sera' que ela teria parentes europeus e entao seriam

''' euros ""...eles, Marcelo e Durvalina sao quem sabem, afinal sao adultos, vacinados e maiores de idade , nao sao? ...ele 35, bonito, lindo e charmoso...ela 60 e tantos ( tantos pode ser 61 como 69 ?), desengoncada, meia '' torta'', '' manquitola'', magerrima, e agora ja' usava oculos, fundo de garrafa?, e um doutor, quando visitaram o Japao, ja' tinha receitado aparelho para surdez, ela usava agora, e a bengala tinha ponteira de prata....e Marcelo ja' tinha encomendado o '' andador'' e a '' cadeira de rodas''...afinal a vida cobra o seu preco, envelhecer todo mundo tem, nao tem? pensa assim Marcelo, e ao pensar assim trata bem de sua esposa, cuida dela muito bem e cuida melhor ainda dos '' bens'' dela.

Ambicioso Marcelo. Esperto tambem nao? e digamos, tambem muito '' competente nao?, ou melhor seria, competentissimo?''.

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....10 anos depois que Durvalina tinha dado entrada no orfanato, chegou um envelope grande, vinha da Europa, e aos cuidados da diretora, e uma carta dizendo o que fazer com o outro envelope um pouco menor que estava dentro...era da mae de Durvalina, herdeira rica e unica de uma das familias mais ricas que morava no condominio..tinha na epoca que Durvalina nasceu 16 anos, ficou gravida de um homem casado, ele recusou a admitir e como era amigo do pai dela, encobriram o escandalo, mandaram para a casa da avo' no interior, ela voltou 'as escondidas e chegando nos portoes do condominio sentiu as dores do parto, deu 'a luz, entrou escondida no condominio e jogou no lixo...ligou para a familia, acudiram e a enviaram para a Europa, viveu sempre por la', mas sabia onde Durvalina estava, e como era casada ficou calada e uma das ordens para Durvalina receber sua heranca era nunca, nunca '' descobrir'' quem era sua mae, sua familia...e assim a pobre Durvalina fez...e' a vida...'e a vida, faz parte do crescimento sofrer.

O que nao faz parte sao as '' mentiras'' que a vida nos prega.

Ou sera' que faz?

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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 27/06/2010
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