QUANDO SE TENTA UM RECOMEÇO

Que vontade "loka" de registrar aqui coisas que vi, olhares que pareciam não acreditar numa realidade outrora imaginária, mas que acabara de acontecer.

Vidas que não viveram, olhos que não viram nada além de uma grade, onde por um filete de sol era possível sonhar outra vez. Uma grade de preconceitos, de descaso, humilhções, desconfiança...Tudo que não se fazia questão naquele momento.

Que anseio em enxergar o novo.... Que maldade... não o deixaram!

Tantos planos caídos... Tantos momentos a serem esquecidos mas que insistem em perturbar quem precisava apenas de um pouco de ilusão do mundo real.

Alguns tiveram a oportunidade de falar, ouvir, buscar um abraço, um aconchego. Faltou o afago de uma mãe que tanto queriam... Que lamentável. Que vontade de adentrar aquela tela e gritar que alguém acredita nessa vontade de viver, de recomeçar.

Outro por injustiça, por "engano" lhe foi tirado o que tinha de mais caro - a dignidade. Quanta desumanidade... Que se faz pra acreditar que é possível mesmo quando se ver cenas deprimentes de pura falta do que todos precisamos? Faltou companheirismo do próximo.

Onde será que estão agora... Como estão vivendo... Se é que se pode chamar de vida o que vivem. Um sonho de mãe, uma vida interrompida, outra que por engano teve que parar. Três sonhos! Três vidas sem perpectiva alguma de melhoria...apenas sonhos!

Uma pena que relatos não consigam traduzir com tanta nitidez o que foi visto, o que foi sentido.

Nada, nem ninguém consegue por mais que se usem as palavras adequadas. Existem sensações que só quem viu sente, que só quem sentiu não esquece. É o tipo de relato onde existe algo de muito secreto que só o autor sabe onde encontrar, porque só ele conheceu.

Antes que me torturem com bobeiras na tentativa de evidenciar o que não foi falado, esclareço: Tudo o que me incomodou, incomoda e que me levaram a fazer esse registro, são lembranças de vidas que sobreviveram a uma prisão.