“Pai! A Copa é importante?”

“Pai! A Copa é importante?”

Por Jocax, junho, 2010

“-Pai, A copa do mundo é importante?”

Foi o que a minha filha de 10 anos me perguntou quando estávamos na mesa almoçando. Eu sabia que, talvez não para ela, mas a pergunta encerrava uma questão filosófica importante: A questão do que é ou não é importante, e de como deveríamos “valorar” um determinado assunto como sendo ou não importante. Mas não poderia divagar e filosofar na questão por muito tempo, mesmo porque uma menina de 10 anos não teria paciência para tanto, então disse:

“-Se as pessoas dão muito valor a alguma coisa, esta coisa se torna importante para elas. Se as pessoas valorizam a copa do mundo então a copa acaba ficando algo importante. Mas, para mim, a copa não é importante.”

Meu filho de 11 anos entrou na conversa defendendo ferrenhamente a copa. Então eu tive que defender meu ponto de vista com o argumento:

“-Que diferença faz se a bola entra na rede ou não? O que isso tem de importante?”

O que ele retrucou com algo do tipo: “- O mundo inteiro acha a copa importante, só você que não!”

De qualquer modo, a questão subjacente à pergunta da minha filha ficou martelando em minha mente: “Quando algo é de fato importante?” ou “Seria a ‘importância’ algo totalmente subjetivo?”

Para começarmos a analisar a questão, é interessante darmos uma olhada no dicionário (Michaellis) sobre o significado do vocábulo:

importante

im.por.tan.te

adj (lat importante) 1 Que tem importância. 2 Que não se pode esquecer ou deixar de atender. 3 Digno de apreço, de estima, de consideração. 4 Que tem grandes créditos, que exerce notável influência. 5 Que tem muito valor ou preço notável. 6 Útil, necessário. 7 Enfatuado. sm O que há de mais interessante, de mais útil, de mais proveitoso numa pessoa ou coisa; o essencial.

Podemos definir ‘importância’ de uma forma mais genérica, sem, com tudo, nos distanciarmos do seu significado trivial, como sendo:

“Importante é tudo aquilo que tem o potencial de alterar a felicidade. E tanto mais importante algo será quanto maior for sua capacidade de alterar a felicidade”

A Felicidade, aqui referenciada, seria a felicidade definida na “meta-ética-científica”[1], grosso modo, podemos pensar a felicidade como sendo a soma dos sentimentos ponderados por sua duração no tempo considerando todos os seres sencientes (capazes de sentir).

Desta forma o grau de importância deixa de ser totalmente subjetivo e torna-se até mesmo mensurável. Além disso, podemos observar também que os valores particulares e subjetivos também devem ser considerados! Claro que a subjetividade particular de uma pessoa qualquer é diluída na soma dos sentimentos de todos os seres e acaba tendo uma importância reduzida no somatório que produz a felicidade. Por exemplo: Se um time marca um gol e o outro leva um gol isso pode até deixar algumas pessoas muito infelizes (ou felizes) contudo, isso não tem grande relevância em relação, por exemplo, a descoberta de uma nova vacina que previne uma doença séria. Isto ocorre porque devemos levar em consideração que o tempo é importante no calculo da felicidade e não apenas o prazer/sofrimento. A vacina repercutirá na felicidade por muitos milhares de anos em uma ampla parcela da população enquanto que o prazer ou sofrimento de um jogo tem duração bastante efêmera, de modo que, embora o prazer e dor possam ser altos durante a partida, ou pouco depois dela, o tempo que este prazer (ou sofrimento) perdura é muito pequeno, repercutindo pouco no computo da felicidade total e, portanto, da importância do evento.

Voltando ao tema da copa, é interessante observar também que apenas um time se sagrará vencedor do campeonato e dezenas de outros serão perdedores. Então, no fim da copa, haverá muito mais pessoas infelizes com o resultado do que o número de felizes em relação ao evento! Então porque estes campeonatos ocorrem?

Acredito que seja porque a própria esperança de vencer fornece prazer e esta esperança só termina quando terminam realmente as chances, e a esperança de vencer pode se iniciar bem antes do inicio das disputas, o que contribui para o aumento da felicidade.

Por exemplo: Daqui a alguns anos haverá outra competição (olimpíada, copa etc.) e os países envolvidos carregarão até o inicio do evento uma esperança de se sagrarem vencedores. Esta esperança da vitória traz consigo prazer. Este prazer é ponderado por este tempo no computo da felicidade. Depois, no início dos jogos, os times rapidamente perdem até sobrar apenas o vencedor. Mas isso não importa tanto, pois o tempo em que a esperança de vencer atuou e forneceu prazer é bem maior que o pequeno tempo de assimilar a derrota e esquecê-la. De modo que nestas disputas, onde há apenas um vencedor e centenas de perdedores, acaba por fornecer um saldo de felicidade positivo embora isso seja aparentemente contraditório, já que a maioria vai perder!

A esperança da vitória, de conseguir algo difícil, é o que faz os humanos lutarem e não desistirem. Se não houvesse prazer na esperança, no vislumbre da vitória, não haveria também luta pela conquista, e talvez não sobreviveríamos como espécie!

Assim, embora aparentemente contraditória, as competições esportivas exploram um lado bem humano de nossa espécie e por isso elas teimam em ‘contrariar a lógica’ e continuar existindo.

Referências

A Meta-Ética-Científica

http://www.genismo.com/metatexto44.htm